É hoje praticamente um lugar-comum afirmar-se que não há crescimento económico sem investimento e, claro, que não há criação de emprego sem crescimento económico.
Mas por vezes o óbvio carece de ser sublinhado e por isso aqui o repito, conscientemente e em nome das empresas que integram as associações presentes na Confederação de Serviços de Portugal: não há nem haverá crescimento económico sem investimento.
Ora, o investimento que é feito em Portugal pelas empresas - designadamente pelas empresas de serviços - não dispensa o recurso a instrumentos de financiamento assentes no crédito bancário. Aquele a que importa aqui referir-me é o crédito saudável, sustentável e bem balanceado com outras fontes de financiamento, e que é indispensável para que as empresas apostem na inovação, na investigação e desenvolvimento, na formação e na prossecução das suas actividades e no crescimento sustentável dos seus negócios.
A presente conjuntura macroeconómica parece constituir um bloqueio à concessão de crédito às empresas - das PME às de maior dimensão - que em muito concorre para a erosão da respectiva capacidade de competir e para o arrefecimento global da competitividade da economia portuguesa. O afã de redução drástica e acentuada da exposição da banca portuguesa, as fragilidades decorrentes do seu próprio endividamento e o medo relativamente ao cenário internacional e ao atraso de uma retoma global que, apesar de uma boa dose de ‘wishful thinking' devidamente propagandeada, teima em não se mostrar - tudo temperado com os sucessivos cortes de ‘rating' infligidos à República e aos bancos -, têm levado à degradação das condições em que as empresas portuguesas conseguem financiar-se. O dinheiro é-lhes vendido em quantidades cada vez menores, cada vez mais caro e por prazos cada vez mais curtos, assim dificultando as suas posições competitivas face àquelas que, financiando-se na mesma moeda, o conseguem fazer mais barato.
Com isto - sejamos claros -, adicionam-se problemas aos problemas da estrutura e da conjuntura económicas do nosso País, o que expõe uma contradição em que incorrem alguns dos principais actores da nossa vida política: tecem-se loas ao empreendedorismo, apela-se à inovação enaltece-se a capacidade de correr riscos; mas, enquanto isso, a banca retrai-se no crédito às empresas, o Estado não dá o exemplo através do banco público e as instituições comunitárias mantêm uma prudência asfixiante.
Vítor Gaspar e o primeiro-Ministro devem dizer o que pensam sobre isto e o que tentarão (pelo menos) fazer em prol do alívio do garrote financeiro a que estão sujeitas as nossas empresas - a economia e os "mercados" vivem da gestão de expectativas e nada é pior do que não ter nenhumas para gerir.
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