O projecto de instalar uma fábrica de aviões no Alentejo já leva alguns anos. Por fim, recentemente, os brasileiros da Embraer, com a
estafada presença do corta-fitas Cavaco Silva, lá inauguraram as duas fábricas na região de Évora.
A cerimónia decorreu à porta fechada, segundo se disse, “por motivos de segredo industrial”. Secretismos de polichinelo. A “brasileira” Embraer (1) funciona aqui, como noutros projectos tecnológicos em outsourcing, pela simples acoplagem de componentes fabricados por diversos fornecedores nos mais variados e convenientes lugares. Desde que a mão de obra local seja barata e não demasiado qualificada: afinal na “fábrica” metalomecnica moderna trata-se de manobrar por botões máquinas em grande percentagem robotizadas e informatizadas (2).
As
duas fábricas de Évora irão fabricar dois elementos do avião: uma, parte da estrutura compósita da cauda, e outra parte da estrutura metálica das asas, como componentes seleccionados para serem exportados a partir de Portugal para o modelo de avião a ser montado noutro lado qualquer. Perante este panorama, conclusão do excelentíssimo senhor Presidente Cavaco para as televisões:
“Portugal está a partir de hoje definitivamente lançado na indústria aero-espacial”
(1) O mito que a Embraer é brasileira é tão falso quanto o mito da Auto-Europa ser portuguesa. Iniciando a actividade na década de 1970, por iniciativa do Estado, (que rapidamente a privatizou) sendo então associada a capitais e know-how da Alemanha, a empresa é hoje uma multinacional de capitais bastante globalizados. Em 2008 a Embraer era detida por accionistas muito diversificados: o Grupo Bozano (11.10%), o fundo de pensões Previ (16.40%) a Sistel (7.40%), a Dassault Aviation (2.1%), a EADS (2,1%), a Thales (2,1%), a Safran (1,1%) e o Governo do Brasil (0,3%). O restante capital estava disseminado por investidores particulares.
(Dados obtidos na obra “Corporate Governance”, por Robert A. G. Monks, Nell Minow e John Wiley and Sons)(2) Alguém da região que concorreu a um dos 600 postos de trabalho a criar num investimento de 177 milhões de euros, viu a candidatura rejeitada por não obedecer aos parmetros de recrutamento. Tinha 37 anos, ou seja é demasiado velho
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