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Guarani, empresa responsável pelo investimento, tem como sócia
majoritária a Tereos Internacional, cujo CEO é Alexis Duval (foto)…
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… e como minoritária a Petrobrás Biocombustível de Miguel Rossetto (na foto, com Lula)
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Existe relação entre a expansão da fronteira agrícola moçambicana
capitaneada pelo projeto tripartite ProSavana (Brasil, Japão e
Moçambique) e o pujante crescimento da cana-de-açúcar nesse país
africano?
Existe relação entre o ProSavana – onde o papel do Brasil é, entre
outras coisas, o de viabilizar a agricultura em solos muito semelhantes
aos do Cerrado brasileiro – e a construção de uma refinaria de etanol
pela “brasileira” Petrobrás Biocombustível? (as aspas são tão somente
uma tentativa de permanecer o mais fiel possível à situação, já que é a
Guarani a empresa brasileira que de fato fará os investimentos na
refinaria, tendo como sócia majoritária – 68,6% de participação – a
Tereos Internacional, subsdiária do grupo francês Tereos. A participação
brasileira da Petrobrás Biocombustível na Guarani é minoritária –
31,4%)
Existe relação entre a construção de uma refinaria de etanol, o
aumento da produção de cana e o hipotético desejo brasileiro de
transformar o etanol em commodity mundial?
Em última instncia, há algum problema nisto tudo?
Antes de mais nada, o que fazer com terras moçambicanas, e que
indústrias nelas operar, diz respeito, tão somente, ao povo moçambicano,
e supor o contrário é dar-se ares de superioridade moral e paternalismo
colonialista, quando não mesmo racista.
Mas quando iniciativas brasileiras em terras alheias – especialmente
as da África Subsaariana – são reinterpretadas e revestidas, já no
Brasil, de um tom que por vezes resvala naquele mesmo paternalismo que a
todo o custo se deve evitar, por vezes se investe de um ímpeto
vagamente contra-hegemônico, sob a também vaga noção da Cooperação
Sul-Sul, então, se não chega a ser um problema – nesses termos, desde
já, irrelevante para os moçambicanos – deveria pelo menos suscitar
outras perguntas, agora não mais inspiradas diretamente na experiência
moçambicana em si, mas na forma que essa experiência é narrada – e
acatada – no Brasil, nos usos que dela se faz, e nos personagens que a
constituem (os emissores, os receptores, os multiplicadores).
Mais não há a fazer por agora senão citar, antes de encerrar, as
referências que sustentam, minimamente que seja, alguns dos fatos e
factos aqui citados e portanto, as perguntas aqui feitas:
Projeto ProSavana: cooperação ou cavalo-de-Tróia? A ambiguidade da presença brasileira em África. Aqui.
Relatório Anual 2012 do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, Moçambique, Açúcar. Em inglês, aqui.
Petrobras vai iniciar produção de etanol em Moçambique em 2014. Macauhub, 21/11/2012. Aqui ou aqui.
Petrobrás Biocombustível e Guarani vão produzir etanol em Moçambique. Estadão, 15/12/2011. Aqui ou aqui.
O Brasil na luta pela comoditização do etanol. Aqui.
O Brasil como líder regional: enfrentando o desafio Chávez. Aqui.
Tereos – Estrutura societária. Aqui.