A propósito da comunicação ao país do P.R. no primeiro dia do ano |
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Por João J. Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador
“A política não é uma ciência como supõe a maioria dos senhores professores, mas uma arte”.
Bismarck
O
actual sistema político, inaugurado com a Constituição da República de
1976, e que deu início à “III República” em Portugal, trouxe-nos, ao fim
de escassos 35 anos, a um bloqueamento político e a um precipício
económico, financeiro e social. E, acima de tudo, a um desregramento
moral muito acentuado que é, afinal, a raiz de todos os outros males.
As saídas para a crise são poucas, estreitas e dolorosas.
Como
a “crise” foi ignorada desde a sua génese e desenvolvimento, nada se
fez para a debelar, agravando-a mês a mês e passo a passo, como se de um
plano delineado para o abismo se tratasse.
A
incompetência e o desvario, supervenientes, impediram qualquer
entendimento e decisão que levasse a uma solução em termos nacionais.
Por isso temos a “Troika” a tentar fazer o que nos cabia a nós ter
feito, e que devia, em primeiro lugar, ter sido evitado.
Quer
isto dizer que jamais devíamos ter chegado a este estado a todos os
títulos lamentável e indigno de um povo civilizado, com 900 anos de
História.
Parece uma verdade de “La Palisse”, sem embargo é bom lembrar e é um bom começo de conversa…
A
responsabilidade do actual estado de coisas cabe, maioritariamente, a
todas as forças políticas, em particular e à sociedade, em geral. Com
especial enfse nos partidos do “arco do poder”, mas também nos
restantes, que fizeram tudo para sabotar o que funcionava e tentaram,
com reivindicações irrealistas e algumas absurdas, fazerem com que toda a
gente vivesse acima daquilo que o país produzia.
Fizeram-se leis para uma sociedade e para pessoas que não têm nada a ver com a realidade e o palco onde iam ser aplicadas…
Com
a propagação mediática de conceitos errados de Democracia e Liberdade,
abandalhou-se a sociedade e foi-se destruindo o Poder Nacional.
Enfim,
não iremos por aí que dá resmas de papel e tentemos sintetizar os
principais erros dos actuais agentes políticos que, supostamente, estão a
tentar tirar o país do logro abissal em que caiu.
E
não está em causa a austeridade, que essa – dados os erros terríveis
cometidos, vai ter de existir por muitos e penosos anos; o que está em
causa é a justiça dessa austeridade e as medidas associadas para
relançar a Economia e no que é necessário fazer em todos os campos da
Sociedade, para a tornar mais sã.
O
primeiríssimo aspecto é o exemplo. Ninguém de boa mente, vai atrás de
alguém a não ser pelo exemplo. Por isso há que dar sinais reais e
concretos de que, quem quiser impor sacrifícios aos outros, também os
quer para si.
Daí
que se deveria começar pelos orçamentos dos órgãos de soberania (sem
pôr em causa a dignidade do Estado que deve ser a da Nação), os quais
devem ser sujeitos a cortes superiores a todos os restantes aplicados ao
todo nacional. Nem que fosse apenas uma décima…
E quem vai trabalhar para os órgãos de soberania deve ir com espírito de servir e não outro!
Tudo
o que fosse cargo dirigente de empresas e bancos públicos vinha por aí
abaixo e ninguém ganharia mais do que ministro. Sem a vergonha das leis
com excepções.
É
absolutamente imoral e obsceno ter um Presidente da TAP, da CGD, da
EDP, etc., a ganhar vencimentos estapafúrdios (fora o resto).
O
estabelecimento de uma cadeia hierárquica (que apenas resta, ferida, na
Igreja e nas Forças Armadas e de Segurança) é, absolutamente,
indispensável para se poder pôr o país a funcionar (foi destruída por
alturas de 1974/5 e nunca mais reposta).
O
aspecto seguinte é escolher para cargos importantes, gente minimamente
capaz. Ninguém pode levar a sério um governo que conta no seu seio
figuras como o Senhor Miguel Relvas. Há mínimos…
Finalmente
é necessário responsabilizar criminalmente (não apenas social e
politicamente) quem incorrer nas malhas da lei, como são os casos de
dolo financeiro.
Ora,
aparentemente, todos encobrem todos, pois quem se arrisca a atirar
pedras às telhas do vizinho, quando o telhado de cada um é o que se sabe
(fora o que se suspeita).
Por
outro lado, ter um plano financeiro que não permitisse escoar os 78 mil
milhões que nos emprestaram a juros leoninos, sem que se possa induzir,
que seja, uma mais-valia futura, ajudava…
Caso
isso não aconteça – e até agora não aconteceu – quando o dinheiro se
for, apenas juntámos mais dívida à que já tínhamos (e que, nos termos
actuais é impagável!).
Ou seja ficaremos pior e apenas ganhámos tempo para ficar… pior!
Outro
erro clamoroso é querer curar o doente em três ou quatro anos, de uma
doença que leva 38 anos de incubação. Resulta que o paciente morre da
cura…
Em
simultneo não se tem feito grande coisa para mudar a economia (que
está associada a mil “itens”). Ora não se relançando a economia o plano
inclinado não pára de se inclinar. É certo que as medidas, neste mbito,
levam tempo a produzir efeitos – por isso elas deviam ter sido
iniciadas ontem – mas é urgente estancar a recessão e o desemprego.
E
a impressão que dá é que não há um plano para nada nem se sabe por onde
começar. Que diabo, olhem ao menos, para as colunas da balança
comercial e vejam o que se pode produzir cá e o que se pode exportar
mais!
Por
outro lado, não seria despiciendo apoiar a investigação nacional,
naquilo que possa fazer a diferença em determinados produtos e nichos de
mercado. Tudo conta.
Neste
particular, torna-se imperioso estancar as greves e arranjar crédito
barato para apoiar as micro e médias empresas. Tem de se encontrar uma
plataforma de entendimento credível, em sede de concertação social, e
agir-se lealmente.
Por
isso, percebe-se muito mal porque é que o governo injecta dinheiro
constantemente nos bancos, sem qualquer contrapartida de investimento,
para já não falar na benignidade fiscal com que são bafejados.
E
não seria má ideia que o senhor ministro das Finanças passasse a taxar o
consumo em vez de castigar o trabalho. Aliás, lança imposto sobre tudo o
que mexe ou está quieto. O último que agiu desta maneira foi um tal
Conde-Duque de Olivares (de má memória), que só não foi empurrado da
janela fora (como o Vasconcelos), porque estava em Madrid e não era
fácil deitar-lhe a mão. Mas, a páginas tantas, em vez de dinheiro,
passou a receber pólvora…
Finalmente
o sistema político tem de mudar e os seus agentes têm de passar a
prestar provas antes de serem investidos em cargos importantes. Já
repararam que a Política é a única actividade que não exige nenhum
certificado de habilitações?
Seria
sensato, para que as coisas evoluíssem e não revolucionem, fazer duas
coisas em simultneo: melhorar o actual sistema – o que ninguém quer
discutir, o que constitui a negação da própria Democracia; quase
ninguém, hoje em dia, se revê ou se sente representado, no funcionamento
dos órgãos de soberania que a Constituição enquadra.
A outra seria
estudar a implementação de uma nova organização do Estado que fosse
adequada a Portugal e aos portugueses (o que vigora anda a tentar
estabelecer-se, desde 1820 e só tem dado desastres, e a razão principal é
a de que o modelo foi importado e não tem nada a ver connosco). Já era
tempo de emendarmos a mão em vez de se insistir no erro.
A
Ciência Política parou, aparentemente, no final da II Guerra Mundial.
Ora quando uma ciência não se desenvolve, estiola e morre.
Fiquemos por aqui.
Numa
palavra, o Governo tem actuado desgarradamente, sem ter um plano, uma
estratégia que seja, a não ser falar de mais e acertar de menos. E, pelo
meio, nunca faz o que diz que quer fazer. Esquecia-me de uma coisa:
aprestam-se, com afinco, a vender o país ao desbarato, apenas com o
desvelo de resolver problemas de tesouraria (e dar dinheiro a ganhar a
alguém). Fica-se, até, com a ideia de que estão capazes de vender a
própria mãe…
Mesmo o único objectivo conhecido e repetido ad nauseam, que é o de regressar aos “mercados”, parece inconsistente e errado.
O
primeiríssimo objectivo devia ser o de reganhar a Soberania, palavra
maldita, que a classe política tem porfiado em querer alienar para uma
entidade obscura que vem mudando de nome e que por agora se chama UE.
Uma
“União” que virou um triunvirato, onde se destaca Frau Merkel,
acolitada por um presidente francês (seja qual for), alquebrado, mas
sempre pesporrente “de la grandeur de la France” e de uma Inglaterra,
sempre com um pé nos EUA, que anda sempre a sabotar qualquer acordo
“continental” que os possa prejudicar, como sempre fez desde a Guerra
dos Cem Anos! E que, muito provavelmente, já anda a cozinhar uma nova
EFTA alínea “B”…
Parece
que por lá labutam uns 500 eurodeputados que se perdem em discussões
soporíferas (e que perdem mais tempo a viajar ida e volta para os seus
países do que a fazer o que ninguém sabe que é suposto), acolitados por
duas dúzias de comissários donde se destacam uns papagaios que não
riscam nada.
Os
compatriotas de serviço ao Terreiro do Paço (isto é, aos paços do
poder) provavelmente nem se apercebem de qual o campeonato em que andam a
jogar, e aqueles que têm um olho aberto fazem, naturalmente, a
diligência de arranjar uma boa reforma enquanto é tempo.
As
coisas são o que são, como dizia o nosso engenheiro, e os “ventos da
História” não perdoam. Além do mais, tudo o que se passa é, para algumas
doutas mentes, irreversível!
Isto
vai tudo acabar numa tremenda de uma crise política, da qual não
sairemos com “partidos”, mas apenas com “inteiros”. É fatal como o
destino!
Mas o artigo – lembro-me agora – era suposto ser sobre o discurso do Presidente. Parece que não tocou em nada disto.
Foi
apenas frio, redondo e calculista. Quis ser equilibrista, querendo
agradar a todos, o que resultará não agradar a ninguém e não ter
qualquer resultante.
Ora o que não tem resultante costuma ser irrelevante.