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HISTORIA: Roma, o governo dos libertos
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De: vylma  (Mensaje original) Enviado: 17/08/2009 14:14
Um dos fenômenos sociológicos mais interessantes da História do Império Romano foi o gradativo desinteresse das elites que compunham o patriciado em quererem conduzir os assuntos do estado. Ditadores e imperadores autocratas, ao longo do tempo, escorraçaram as pessoas melhores qualificadas para a gestão pública, substituindo-os por lacaios e libertos. Assim, enfraqueciam o núcleo dirigente sem que esse fosse o objetivo deles, preparando a decadência.

Um imperador palerma


Legionários na Britnia

"mas nós, que agora ficamos sentados, inativos, em nossas terras, perdermos a pátria."
Virgílio - Eneida, Livro XII, 30-19 a .C.

Para o seu tio-avô, ninguém menos do que o imperador Otávio Augusto, Tibério Cláudio Druso, ou simplesmente Cláudio, era um pateta. Para nada servia. Sua infncia fora assolada por doenças de toda ordem, coisa que enfraqueceu-lhe o corpo e mais ainda a mente. Ainda assim, o soberano recomendava que lhe prestassem as homenagens devidas por ele pertencer a família Julia, por cujas veias circulava o precioso sangue de César, e também para que não rissem dele, apesar de “retardado e enfermiço” . Cláudio chegou ao poder aos cinqüenta anos graças a um golpe palaciano, quando a guarda pretoriana rebelada, no ano de 41, matou seu antecessor Caio César Calígula, um incestuoso degenerado que, excitado pela loucura e o capricho, quis ser deus.

Na falta de um outro, os soldados escolheram o palerma. Cláudio, porém, surpreendeu a todos(*). Não se saiu de todo mal como imperador, visto que justo pelas leituras intensas que fizera, sabia Homero de ponta a ponta, acumulara uma sabedoria suficiente e um conhecimento histórico o suficiente para manter-se no leme do estado. Tão simples mostrou-se que rejeitou festas de coroamento como também o titulo de “imperador”. Além de ter reformado o importante porto de Óstia, ocupado as ilhas Britnicas, organizou jogos e divertimentos para o povo, restaurando antigos teatros, enquanto com buzinas de um Tritão fantástico, reproduziu uma batalha entre as esquadras da Sicília e de Rodes, com 12 naus cada uma. Um delírio.

(*) Cláudio confessou certa vez que fingiu-se passar por retardado para não chamar a atenção de Calígula, sobrevivendo assim a ele.

A celebração do bucolismo




Curiosamente, entronado com a tiara de César no alto da cabeça, sua saúde melhorou. Suetônio o descreve dotado de uma bela cabeleira branca, corpo ágil, “delgado e bem feito”, que lhe dava um “ ar de grandeza e dignidade”, Censuraram-no por deixar-se dominar pelos libertos e pelas mulheres (Cláudio, depois de dois casamentos anteriores, esposou Valéria Messalina, e, em seguida, Júlia Agripina, a mãe de Nero, que o envenenou com um prato de cogumelos). Ocorre que parte disso, da influência de subalternos ignorantes, decorreu por culpa do seu famoso antepassado, o imperador Otávio Augusto. Temeroso em ter que conviver no Ara Pacis, o templo em que erguera pela paz, com potentados por perto, alguns deles com exércitos privados, Otávio achou por bem, para livrar-se deles, fazer uma campanha publicitária a favor da vida rural.

Para tanto, estimulou o poeta Virgílio para que compusesse umas écoglas (As bucólicas, de 42-37 a.C.) celebrando a bela paisagem do campo. Coisa boa era ser pastor ou vaqueiro, caminhar em meio as ovelhas, aspirando ar puro, e não aquela fetidez que exalava das cloacas de Roma. Que o patriciado romano, abandonando a grande cidade, voltasse a habitar nos seus domus , maravilhosas propriedades campestres, bebendo um bom vinho, passando o tempo em brincadeiras sapecas com as “pastorinhas”, as criadinhas e moças do campo. Era um aberto menosprezo à corte e o elogio a aldeia. Que os grandes se convertessem à sobriedade do estoicismo ou aos exageros do epicurismo desde que deixassem o imperador com as mãos livres para governar sem a presença sufocante e constrangedora deles. O resultado desta política de esvaziar Roma dos seus homens qualificados é que, com o tempo, o império viu-se despido dos seus melhores quadros.


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