Semntica na Web
A atual geração de máquinas, sobretudo o tradicional “PC”, está se tornando cada vez mais autônoma, reflexo de pesquisas específicas e bastante complexas no campo da informática, desde os softwares à
nanotecnologia.
O advento da Internet proporciona ao homem contemporneo não só a livre movimentação em ambientes diversos – culturais, políticos, sociais, econômicos e de lazer – e entre eles, mas uma incrível flexibilidade relacionada ao tempo e ao espaço. Resolvem-se negócios por apenas um clique, rapidamente e com extrema facilidade. É uma espécie de liquidez, garantida graças à constante evolução da Web.
Sem descambar ainda para o lado tecnológico, voltemos nossa atenção à nomenclatura utilizada para definir a próxima era da Internet: a Web semntica.
Semntica, como bem ou mal sabemos, é o ramo da linguística que estuda o significado. Cunhado pelo linguista francês Michel Bréal e objeto de estudo do também linguista Ferdinand de Saussure – suíço que formulou a teoria do signo, a qual relacionava significante e significado -, o termo passou a ter maior importncia depois da década de 60, época da revolução chomskiana. Filósofos e linguistas, pois, cooperaram, impulsionando pesquisas e descobertas particulares dessa área. Algumas vertentes dela são a semntica formal (associada à lógica), a vericondicional (relacionada a questões de verdade e falsidade), a da teoria dos modelos (que opera em termos de mini-universos artificais), a lexical (estudo do significado das palavras), a de situações e a pragmática (significados dependentes de um contexto).
Suponhamos que os profissionais da tecnologia, na constituição de todos os parmetros necessários para a total funcionalidade da Web Semntica (Web 3.0), empreguem a Semntica em todos os seus níveis, com quaisquer incrementos que nela possam haver. Teremos, então, um megassistema capaz de solucionar problemas em etapas minimamente curtas e até mesmo satisfazer algumas necessidades humanas, contanto bem expressas em palavras.
Como se trata de uma suposição, convém dizer, no tempo verbal apropriado, que isso seria uma revolução na ciência. Cientistas biológicos poderiam decifrar enigmas de doenças que há muito tempo assolam a humanidade, como o cncer. Profissionais das ciências exatas não teriam tanta dificuldade em simular situações com uso de recursos da natureza, visto que elas poderiam ser muito bem projetadas e analisadas por meio de softwares. Pesquisadores da área de ciências naturais poderiam engajar-se com mais firmeza e destaque na luta contra o aquecimento global, na qual o tempo não está do nosso lado.
Se a Web é um instrumento tão eficaz para fazer o homem trabalhar e promover inúmeras transformações da superfície até além da atmosfera do nosso planeta, a possibilidade real de mudanças importantes – tais quais as mencionadas no parágrafo anterior - ocorrerem não parece ser assim tão concreta. O trabalho, como é concebido atualmente por quase toda a humanidade, faz parte de uma equação que (des)regula nosso cérebro a pensar apenas no resultado, o dinheiro.
Da maneira como está projetada, a Web semntica tem como um de seus objetivos tornar legíveis diferentes linguagens entre o homem e o computador, de forma que se possa obter um mínimo múltiplo comum entre o que se deseja e o que é proposto como solução. Pergunto a mim mesmo o que aconteceria, porém, se daqui a alguns anos, quando o Google for um adulto, alguém pesquisar por termos como “felicidade”, “melhor época da vida” ou mesmo “alimentação”.
Tais conceitos são apenas exemplos de uma infinidade de vocábulos cujos sentidos não são deduzidos pela relação direta entre significante e significado (como acontece em “casa”, “mesa” ou “olho”), isto é, são relativos a contextos não apenas semnticos, mas históricos, sociais, e principalmente subjetivos.
Entretanto, não é impossível que o homem consiga transferir cargas sentimentais ou sinestésicas para máquinas e robôs. Pelo contrário, isso é um recurso bastante explorado hoje em dia pelos dois grandes pólos tecnológicos que são os Estados Unidos e o Japão, que ajuda o homem a recuperar alguns sentidos perdidos com o longo do tempo devido a alguma deficiência ou acidente. É o caso dos microchips, que atuam juntamente com o sistema nervoso central, recebendo estímulos do cérebro e transmitindo-os para órgãos ou membros do corpo, reconferindo a eles sua funcionalidade e mobilidade, total ou parcialmente.
Cabe a nós, todavia, questionar o critério que se utiliza para medir o grau de evolução do “Homo sapiens capitalistas” . Se quanto maior o conhecimento científico maior for o nível de progresso de nossa raça, então podemos afirmar que estamos relativamente adiantados. Mas se o termômetro para medir a febre dessa marcha frenética for o bom uso de todos os nossos saberes e faculdades, então deve faltar algum gene em nosso DNA que ative o discernimento para isso.
Como indaga Riobaldo, personagem de João Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas, “A vida disfarça?”. Se sim ou não, a fuga da realidade já é um desafio à semntica, e representa um fenômeno ímpar: a era digital está tornando os ambientes mais virtuais e o homem cada vez menos humano, distante de si.
♦Súlivan