Para Conversar, Digite 1
Michael Alvear
No caminho da revolução nas comunicações aconteceu um fato curioso:deixamos de falar uns com os outros. Um dia desses eu passeava no parque com um amigo quando o celular dele tocou, interrompendo nossa conversa. Ali estávamos nós, andando e conversando num lindo dia de sol e, de repente, eu me vi invisível, ausente da conversa.
O parque estava cheio de gente falando ao celular. As pessoas cruzavam umas com as outras sem se ver, sem dar um alô, olhar os bebês ou fazer um agrado nos cachorrinhos. Evidentemente, a voz eletrônica é preferível ao contato humano.
O telefone costumava servir para ligar você a alguém ausente. Hoje ele faz as pessoas que estão ao seu lado se sentirem ausentes. Pouco tempo atrás eu estava num carro com três amigos. O motorista nos mandou calar a boca para escutar a pessoa com quem estava falando ao celular. E nós ali, quatro amigos, sem poder conversar por causa de uma engenhoca projetada para facilitar a comunicação.
Por que quanto mais conectados mais desconectados nos sentimos? Cada avanço na tecnologia das comunicações é um retrocesso na intimidade das interações humanas. Com E-mail e mensagens instantâneas pela Internet, agora podemos nos comunicar sem nos ver ou falar. Com o correio de voz, é possível conduzir conversas inteiras sem jamais chegar perto do interlocutor. Se minha mãe me faz uma pergunta, eu deixo a resposta em seu telefone.
Com a automatização de quase todos os contatos imagináveis entre seres humanos, o índice de alienação cresce. Você nem pode mais ligar para alguém a fim de pedir o número de telefone de outra pessoa. O auxílio à lista quase sempre é automatizado. Precisa fazer um depósito bancário? Para que falar com o funcionário do banco, se você pode usar o caixa eletrônico?
Em breve tampouco será necessária a interação com o caixa no supermercado ou o frentista no posto de gasolina.
Não sou contra a tecnologia. Tenho telefone celular, cartão do banco e e-mail. Desistir desses recursos não é a opção - eles são excelentes para os fins a que se propõem. Seus efeitos colaterais é que me incomodam.
Cada vez mais me pego escondido atrás de um e-mail para fazer um trabalho que deveria ser resolvido numa conversa. Ou aliviado quando a secretária eletrônica atende, porque eu não tinha mesmo tempo para falar. A indústria dedicada a me ajudar a manter contato com as pessoas está me deixando cada vez mais isolado - ou pelo menos, facilitando meus instintos anti-sociais.
Portanto, estou em regime de restrição tecnológica: nada de mensagens instantâneas para quem mora perto, nada de falar ao celular na presença de amigos ou deixar a secretária atender se eu estiver em casa.
Para que toda esta tecnologia fantástica se ninguém está na sala ouvindo você exclamar: "Que fantástico!"?