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É errado comparar o portador da DA a uma criança
Pensamentos inacabados, esquecimento de fatos e conversas recentes
podem ser os primeiros sinais de uma doença ainda com causa
desconhecida e sem cura, a Doença de Alzheimer (DA). Dia 21 de setembro
é o Dia Mundial da Doença de Alzheimer. Apesar de ter sido descrita
pela primeira vez em 1906 pelo médico alemão Alois Alzheimer, a DA
ainda é frequentemente confundida com esclerose. Trata-se de erro
grave, tendo em vista que a doença é uma forma de demência cuja causa
não está relacionada com a circulação ou com a arteriosclerose, e sim
com a morte de células cerebrais que leva a uma atrofia das suas
funções. Isso ocorre de forma progressiva e acomete sobretudo pacientes
idosos, levando-os à total dependência de um cuidador.
Quanto antes for feito o diagnóstico - que se dá através de cuidadosa
história do paciente relatada por seu familiar ao médico, aliada aos
exames físico e mental - mais o cuidador/familiar poderá se preparar e
conhecer a melhor maneira de atender ao portador. A confirmação do
diagnóstico somente pode se dar com a necropsia, utilizando os tecidos
cerebrais após a morte. Porém, hoje há a probabilidade de acerto em
mais de 95% dos casos. Outras doenças, como problemas de tiróide,
derrame e depressão, podem causar sintomas parecidos com a DA, por isso
a importncia de um criterioso diagnóstico por parte do médico. Feito o
diagnóstico, o portador passará a tomar medicamentos, que embora não
tragam a cura, impedirão que a doença progrida, além de proporcionar um
período de melhor qualidade de vida.
Pode parecer desanimador pensar que não haverá melhora com o
medicamento, mas se lembrarmos que se trata de uma doença progressiva,
com tendência a piora contínua, parar de piorar ou reduzir a velocidade
da deterioração sem dúvida é um ganho. Para garantir a qualidade de
vida do portador é essencial também a atuação dos cuidadores, que
geralmente são os próprios familiares ou algum profissional contratado
que tenha experiência com a DA. O cuidador precisa estar atento às
dificuldades iniciais para poder contar ao médico e receber as
orientações corretas, acompanhando o período de perdas cognitivas e
intelectuais que fazem parte da doença. Mas é possível tentar preservar
outras funções, e principalmente os laços afetivos.
O portador da doença precisa de cuidados e de muito carinho, cercado
com paciência e bom senso da pessoa que se tornará essencial para ele,
o cuidador. É errado comparar o portador da DA a uma criança, pois ele
já tem uma história de vida e um processo ocorrerá de forma inversa ao
da criança, o portador da doença desaprende enquanto que a criança pode
aprender a comer, a se cuidar, ou seja, absorve as informações de forma
crescente. A tentativa e a insistência em fazer com que o portador
aprenda novamente a fazer suas tarefas, trará momentos de irritação e
nervosismo, e é importante que fique claro que ele não irá aprender.
As pessoas com demência, tais como portadores da DA, podem apresentar
os seguintes sinais: perda de memória que afeta as habilidades
profissionais, dificuldades em executar tarefas domésticas, problemas
com vocabulário, desorientação de tempo e espaço, incapacidade de
julgar situações, enfim, comportamentos que erroneamente podem ser
confundidos com o processo de envelhecimento normal. O tratamento da
doença de Alzheimer não envolve apenas medicação, já que é possível
utilizar capacidades preservadas para suprir, pelo menos em parte, as
que estão prejudicadas. O objetivo do cuidador deve ser o de manter a
vida o mais normal possível, e dentro do que estiver ao seu alcance,
preservar a independência de seu familiar.
Preservar a independência tem dois efeitos extremamente positivos:
contribui para manter a dignidade e a auto-estima do paciente e diminui
a carga de trabalho do cuidador. Estimular o portador a realizar
tarefas de que ele ainda é capaz pode ser saudável, desde que esteja
realmente ao alcance dele. Caso contrário, causará frustração ou pior,
uma crise de choro ou explosão de raiva. Essa reação normalmente
acontece com algumas pessoas portadoras de DA quando se sentem
pressionadas a fazer algo que não conseguem mais. Quando esses sinais
aparecem, é hora de oferecer ajuda ou mudar de atividade.
Ao cuidador vale lembrar que momentos de frustração e infelicidade
podem aparecer, pois dedicar-se ao portador de DA é uma tarefa que
requer responsabilidades e acima de tudo, paciência. Mas é importante,
quando possível, dividir as responsabilidades com outros membros da
família ou amigos próximos, assim haverá tempo para cuidar de si mesmo.
Portanto, procurar ajuda é o primeiro passo para sentir-se melhor.
Para finalizar, um tratamento com trabalho multiprofissional dará completa assistência ao portador da Doença de Alzheimer.
* Andréia C. Rodrigues Leite é psicóloga (acrleite@ig.com.br)