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General: MEU TESOURO, DE MARIA ZÉLIA - CONTINUAÇÃO
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Respuesta  Mensaje 1 de 6 en el tema 
De: ZÉMANEL  (Mensaje original) Enviado: 14/10/2009 10:34


«O Mito é o nada que é tudo»

Fernando Pessoa, Mensagem



 

«O Mito é o motor e a síntese da História»

Paulo Alexandre Loução


 

O mito é uma realidade cultural desde o homo sapiens.

O mito instala-se e repercute-se materializado, primeiro, nas primitivas manifestações religiosas e artísticas, mais tarde, sobretudo através da literatura.

O povo português, como se tem afirmado ao longo destas páginas, seja através da sua vertente activa de povo sonhador e aventureiro, seja através da vertente passiva de povo melancólico e saudoso, tem-se mostrado um povo com propensão para a crença e a esperança no transcendente.
 

Constable, Estudo das Nuvens

Diz-se que o homem faz a História e a História faz o homem. Realmente o povo lusitano desde sempre se afirmou pelo espírito original e independente.
A sua rebeldia levou-o a garantir a sua autonomia e independência.

A consciência que firmou e afirmou como povo guiou-o desde sempre. A história que construiu com o sonho, por um lado, e o braço armado, por outro, deu-lhe a conhecer e a intuir o seu papel no mundo, e, podemos dizer, a pretender assumir esse «papel» abençoado por Deus.

Cite-se a este propósito José Van der Basselaar através de um excerto de «O Sebastianismo – História sumária»:

«Portugal é o país mais antigo da Europa. Já em meados do séc.XIII possuía as fronteiras que ainda hoje em dia mantém. Assim tinha vantagem sobre as outras nações europeias em unir política, linguística e culturalmente a população do território nacional. Se parecia inicialmente predestinado a ficar absorvido pelo poder crescente de Castela, seguindo o destino de tantos outros reinos da Península, [ o certo é que] apesar de todas as tentativas que de dentro e de fora se fizeram neste sentido, o país conseguiu manter a sua independência. (…) No reinado de D. João I deu-se a tomada de Ceuta, a primeira fortaleza conquistada aos infiéis fora do continente europeu. (…) à conquista de Ceuta seguiram-se as espantosas viagens marítimas, que, no fim do séc. XV, foram coroadas com o descobrimento do caminho marítimo para a Índia e do Brasil, e com a construção de um grande Império colonial no Oriente e no Ocidente. Eram motivos suficientes para que  «a pequena casa lusitana» se fosse embriagando de tantas realizações e chegasse a adjudicar-se uma missão universal. (…)»

«Deus quis que a terra fosse toda uma
Que o mar unisse já não separasse.»

Fernando Pessoa, Ibidem

«Quem te sagrou criou-te português»

Idem, Ibidem

«A profecia tem,  por definição, - e continuamos a citar o mesmo autor - um núcleo irredutível à pura racionalidade. Digamos que tem um núcleo mítico. Mas o mito é um motor poderoso de processo histórico. Leva uma grande vantagem sobre as construções puramente racionais, porque afecta o homem na sua totalidade, não se dirigindo apenas ao seu intelecto, mas tocando-lhe o seu coração, incentivando-lhe a vontade. A quem acredita nela, a profecia dá uma visão do futuro, convidando o homem a colaborar com os desígnios divinos.»

É assim que devemos interpretar toda a obra de natureza mítica que perpassa a nossa literatura desde as trovas do Bandarra, profeta popular. Mas a assunção da literatura mítica manifesta-se em todo o seu vigor com a «Mensagem» de Fernando Pessoa: conjunto de poemas que fazem desfilar a história espiritual dum povo e duma Pátria, ora através dum discurso de assumido e orgulhoso enaltecimento épico, ora através duma voz essencialmente lírica, mas de pungente e profunda intensidade dramática. Estão neste poema cantados, a nu, os nossos mais heróicos momentos e as atitudes da mais arrojada bravura, mas também aquele adormecimento, aquela nsia parada que caracteriza o povo português como afirma José van der Basselar, no texto citado, o discurso mítico e profético «afecta o homem na sua totalidade», «toca-lhe» directamente «o coração» e «incentiva-lhe a vontade». Trata-se de uma intuição colectiva, um pressentimento geral. A crença numa realidade estimula a acção. Daí que

«O mito é o nada que é tudo
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
(...)
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Embaixo, a vida, metade
De nada, morre.»

Num poema intitulado «O conde D. Henrique», apresenta-se a acção humana derivada da vontade divina:

«Todo começo é involuntário
Deus é o agente,
O herói a si assiste, vário
E inconsciente.

à espada em tuas mãos achada
Teu olhar desce.
«Que farei eu com esta espada?»
Ergueste-a e fez-se.»

Esta mesma ideia está magnificamente sintetizada no seguinte verso:

«Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.»

O homem é o instrumento da vontade de Deus. Escolhido e abençoado, cumprirá confiantemente a sua missão, porque ela é inspirada por Deus.

«Deu-me Deus o seu gládio porque eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
às horas em que um frio vento passa.
Por sobre a fria terra.

Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma»


 

Pintura de Turner

 

O herói é escolhido, abençoado e a partir daí, iluminado, é sua a capacidade de sonhar, a «febre de Além», o «querer grandeza». O herói não é assim mero instrumento, pois torna-se sujeito, confiante e sujeito de acção. A acção do herói excederá exactamente a comum e vulgar humanidade, ele possui, em si, a alma «cheia de Deus». Mas, todavia, a sua sagração foi feita em «honra e em desgraça».

O herói terá de sofrer e enfrentar, confiante e resoluto, todas as provações. Esse é o custo que tem de pagar, mas «venha o que vier» não será maior que a sua alma.

«Os Deuses vendem quanto dão.
Compra-se a glória com desgraça.
Ai dos felizes, porque são
Só o que passa!»

Mas como se manifesta a escolha de Deus? Como sabe o homem que foi escolhido? O homem não sabe; a crença ou a fé não se sabem, sentem-se, pressentem-se; possuem-se, ou não se possuem.

O homem ou o povo escolhido terá de saber escutar, saber ler os sinais. O poema «D. Dinis» apresenta-nos aquele que, em horas líricas, soube escutar, interpretar e agir.

«Na noite escreve um seu cantar de amigo
O plantador de naus a haver
E ouve um silêncio múrmuro consigo;
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futura,
É a voz da terra ansiando pelo mar.»


 

Não há sentido ou sentimentos expressos, há pressentimentos, intuições, pois tudo é sussurro, murmúrio, ilusões. São os sinais de Deus; as vozes míticas, a crença; a manifestação duma transcendência. Leia-se, ainda, exactamente dentro desta ideia outro poema:

«Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutamos, cala,
Por ter havido escutar.

E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.»


 

É assim, no domínio do inconsciente, na penumbra do sono, que as vozes se ouvem e a esperança se diz.

«Que costa é que as ondas contam
E se não pode encontrar
Por mais naus que haja no mar?
O que é que as ondas encontram
E nunca se vê surgindo?
Este som de o mar praiar
Onde é que está existindo?»

 

Pintura de Magritte

 

Os poemas apresentados falam-nos de sinais marítimos: o apelo mítico é, portanto, o mar. Quem ouve é Portugal:

«Ilha próxima e remota
Que nos ouvidos persiste,
Para a vista não existe.
Que nau, que armada, que frota
Pode encontrar o caminho
à praia onde o mar insiste,
Se à vista o mar é sozinho?»

 

João São Miguel, Ilhas de Bruma

 

O herói tem, assim, de saber perscrutar os sinais remotos que constituem a manifestação do apelo mítico. Depois, em acção, tem de assumir o valor e o papel da sua missão. No poema «O Mostrengo», poema já citado neste trabalho, o homem do leme é o herói que representa o colectivo: o povo português e a vontade do seu rei;

Por isso, o medo, que é verdadeiramente natural e próprio do homem e tanto maior quanto mais só o homem se sente, o medo do homem do leme – dizia – converte-se em brava coragem, e o homem do leme ultrapassa-o, excede-se a si próprio, porque:

«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo:»

É exactamente na ultrapassagem das suas limitações conhecidas que o verdadeiro herói nasce e se manifesta.
O povo português acreditou ter uma missão a cumprir:

«Quem te sagrou, criou-te português.»

O mar perto e distante era um convite e uma promessa: uma missão que Deus mandava cumprir:

«Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.»

Esta foi a empresa portuguesa abençoada por Deus. Esta a «parte feita», como diz Diogo Cão no poema «Padrão»:

«E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.»

 

Torre de Belém

Contudo, a insatisfação que caracteriza o ser humano está bem presente neste poema:

«A alma é divina e a obra é imperfeita.
E a cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.»

O último verso remete directamente para a continuidade da obra. E, com Fernando Pessoa, esta ideia assume-se de especial importncia.

Para o grande poeta modernista português, os Descobrimentos assumem valor colossal porque são reconhecidos mundialmente. Mas Fernando Pessoa considera que eles foram apenas o «carnal ante-arremedo» do verdadeiro mito português, «O V Império»:

As viagens marítimas terão sido, deste modo, e segundo Fernando Pessoa, uma espécie de primeira provação dos heróis, no seu processo de longa aprendizagem e maturação. Portugal terá que se preparar para a nova viagem:

«E a nossa grande Raça partirá em busca de uma Índia nova que não existe no espaço, em naves que são construídas «daquilo de que os sonhos são feitos». E o seu verdadeiro e supremo destino, de que a obra dos navegantes foi o obscuro e carnal ante-arremedo, realizar-se-á divinamente».

 

Tempestade no Mar, Pintura de Alexandre Mutafov

 

Por isso, o poema «Prece», autêntico novo apelo mítico, termina com a exortação:

«E outra vez conquistemos a Distncia
Do mar ou outra, mas que seja nossa!»

Portugal superou os horizontes, deu ao mundo diferentes terras e diferentes raças; quão benéfico será se afirmar o tempo da harmonia entre elas:

«Cumpriu-se o Mar e o Império se desfez
Senhor, falta cumprir-se Portugal!»

Na passagem do século XX para o século XXI, os últimos redutos do Império alcançaram a sua verdade: Timor é livre, e Macau pertence de volta ao seu destino.
Percorremos as «Malhas dum Império» e afirmamos, no final desta viagem, o encontro do ser – o sonho feito homem. Que, ainda com os olhos rasos de nsia, seja este o corpo da nova utopia.



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Respuesta  Mensaje 2 de 6 en el tema 
De: Lúcia Dias Enviado: 14/10/2009 18:33
 

Floresce na  sombra do meu peito,
Vermelha flor de Deus, meu coração...
Suas pe’talas de eu sentir tem jeito
De ter a cor da minha sensação...

Arranquem-mo: é vermelho, e o seu efeito
De existir é esta vida, a confusão
De bem e mal que no meu ser eleito
De brumas faz  e invasão.

E essa vermelha flor de Deus, meu coração,
Que na sombra floresce e no mistério
Entrega, vibração a vibração,
Seu  ao  sidério
Que a espreita do silêncio da amplidão.

dv-fernando pessoa.jpg

 


Respuesta  Mensaje 3 de 6 en el tema 
De: Lúcia Dias Enviado: 14/10/2009 18:34

Respuesta  Mensaje 4 de 6 en el tema 
De: Lúcia Dias Enviado: 14/10/2009 18:34

Respuesta  Mensaje 5 de 6 en el tema 
De: Lúcia Dias Enviado: 14/10/2009 18:36

Respuesta  Mensaje 6 de 6 en el tema 
De: Bete Enviado: 15/10/2009 19:13


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