A MALDIçãO
Carmo Vasconcelos
Era uma peça antiga, de subtil beleza
Inda luziam irisados nos seus tons
Mas só aquele que a olhasse em profundeza
Podia vislumbrar seus preciosos dons
Não era fácil desvendar com nitidez
O traço, a era, a escola a que pertencia
Amálgama de estilos era seu jaez
Num corpo de mulher, um' alma de utopia
Porém, a par do misterioso encantamento
Pesava nela uma lei de condenado
Mais verossímil do que mero embruxamento
Provável carma d’ex-pecado insaldado...
Todos a desejavam pla sua perfeição
Gozar da sua posse era a nsia exibida
Mas por castigo ou por danada maldição
De pronto a abandonavam após conseguida
E da peça... amargas lágrimas tombavam
Prantos esses que de pátina a recobriam
E enquanto à vista plúmbeos veios alastravam
Argênteos dotes do seu íntimo emergiam
Até que um dia, um velho sábio lhe ditou:
- Cala o pranto inútil que a alma t’arrefeça
Nenhuma maldição a vida te instilou...
Só não baixou ainda a mão que te mereça!