ETERNIZANDO O EFÉMERO
Carmo Vasconcelos
Num poema se entrelaçam as palavras,
Palavras evoladas de momentos;
Momentos de incrustados sentimentos,
Sentimentos cavados como em lavras!
Num poema se misturam terra e flor,
Flor que há-de perpetuar a natureza;
Natureza sublime na beleza,
Beleza divinal do Criador!
Num poema se ironizam gozo e riso,
Riso duma comédia transitória;
Transitória impostura duma história,
História de inventado paraíso!
Num poema se congela o triste pranto,
Pranto que petrifica álgida dor;
Dor que se fez tatuagem dum amor,
Amor que se despiu de roto encanto!
Num poema, a chaga fecha-se a cinzel,
Cinzel que dilapida atritos de alma;
Alma que dos eivados breus se acalma,
Se acalma na paz nívea do papel!
Num poema se desvenda a via secreta,
Secreta ria do ser que o imo enfatiza;
Enfatiza o ora efémero e eterniza,
Eterniza no verso a aura do Poeta!
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