As primeiras civilizações viram-se confrontadas com a necessidade de inventar uma forma de organizar o número crescente de pessoas e bens de modo a garantir o bom funcionamento da comunidade. O aparelho de Estado foi estão obrigado a desenvolver a escrita. A função primária da escrita foi, portanto, a de inventariar e registar assuntos relacionados com o Estado. Mas o a religião e a política estavam intimamente ligadas, nessa altura. à medida que a escrita se aperfeiçoava, o rei empregou cronistas para registarem os seus feitos - nascia a historiografia - mas, curiosamente, os anais e as crónicas estavam recheados de alusões a templos, oráculos e deuses, que ora auxiliavam os reis e a comunidade, ora os castigavam por ofensas aos deuses. De facto, nesta altura, a maioria dos povos tinha uma visão teocrática da história, entregando aos deuses a responsabilidade na determinação e condução dos eventos: o rei não vencia a batalha contra um inimigo devido ao seu aparelho bélico ou ao seu génio estratégico; vencia a batalha porque os deuses assim o queriam.
As primeiras narrativas foram estas crónicas que relatavam o presente dos cronistas. Mas acontecia, por vezes, que o cronista tinha de relatar acontecimentos com raízes mais antigas - frequentemente anteriores a quaisquer registos escritos. O que podia o cronista fazer? Podia ignorar essas causas antigas e já um pouco indistintas e limitar-se ao presente. Ou podia recorrer aos mitos e lendas que tinham passado oralmente de geração em geração. É por esta razão que muitas das primeiras narrativas escritas apresentam mitos e lendas: para explicar e justificar o mundo como essas comunidades e sociedades o conheciam e entendiam.