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FILOSOFIA: A fundamentação metafísica da ciência
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De: NATY-NATY  (Mensaje original) Enviado: 01/11/2009 18:34

A fundamentação metafísica da ciência

O percurso do espírito para a verdade

Da dúvida ao cogito

A dúvida traduz um momento importante do método, em que por meio dela, recusamos tudo aquilo em que tornamos mínima a suspeita de incerteza, embora as verdades da Revelação, por pertencerem ao mbito da fé e do sobrenatural, não sejam sujeitas à dúvida.

A dúvida é apenas o método a que Descartes decidiu recorrer para mostrar que os cépticos estão enganados, e que, por muitas extremas que as nossas dúvidas sejam, no final, somos conduzidos a uma verdade de que não se pode duvidar, ou seja, a dúvida é um método para alcançar a certeza.

«Que para examinar a verdade é necessário, uma vez na vida, colocar todas as coisas em dúvida, tanto quanto se puder.

Como fomos crianças antes de sermos homens, e julgarmos ora bem ora mal as coisas que se apresentaram aos nosso sentidos, quando não tínhamos ainda o pleno uso da nossa razão, vários juízos assim precipitados impedem-nos de atingir o conhecimento da verdade, e predispõem-nos de tal modo que nada indica, uma vez na vida, de todos as coisas em que encontramos a menor suspeita de incerteza».

Descartes, Princípio da Filosofia

Instrumento da luz natural ou razão, a dúvida é posta ao serviço da verdade. É necessário colocar tudo em causa, no processo de busca dos princípios fundamentais e indubitáveis.

A dúvida cartesiana é metódica e provisória, uma vez que, é apenas um meio para atingir a certeza, não constituído um fim em si mesma. É universal e radical, pois incide não só sobre o conhecimento em geral, como também sobre os seus fundamentos, as suas raízes.

Por outro lado, a dúvida cartesiana é hiperbólica, uma vez que, rejeita como se fosse falso tudo aquilo em que se note a mínima suspeita de incerteza.

O texto anterior assinala a importncia da dúvida perante os juízos precipitados contudo, não são estes as únicas razões para duvidar como podemos concluir a partir da análise do seguinte texto:

«Sem dúvida, tudo aquilo que até ao presente admiti como maximamente verdadeiro foi dos sentidos ou por meios dos sentidos que o recebi. Porém, descobri que eles por vezes nos enganam, e é de prudência nunca confiar totalmente naqueles que, mesmo uma só vez, nos enganaram.

Mas, ainda que os sentidos nos enganem algumas vezes sobre coisas pequenas e afastadas, há todavia muitas outras de que não podemos absolutamente duvidar, embora as recebemos por eles; como, por exemplo, que estou aqui, sentado junto à lareira, vestido com um roupão de Inverno, que toco este papel com as mãos e outros factos semelhantes. (…)

Quantas vezes me acontece que, durante o repouso nocturno, me deixo persuadir de coisas tão habituais como que estou aqui, com o roupão vestido, sentado à lareira quando, todavia, estou estendido na cama e despido. (…) Como se não me recordasse de já ter sido enganado em sonhos por pensamentos semelhantes! Por isso, se reflicto mais atentamente, vejo com clareza que vigília e sono nunca se podem distinguir por sinais seguros. (…)

Pelo que talvez não concluamos erradamente se dissermos que a Física, a Astronomia, a Medicina, e todas as outras ciências que dependem da consideração das coisas compostas, são de facto duvidosas, mas que a Aritmética, a Geometria, e outras ciências desta natureza, que só tratam de coisas extremamente simples e gerais e não se preocupam em saber se elas existem ou não na natureza real, contêm algo certo e indubitável. Porque, quer eu esteja acordado quer durma, dois e três somados são sempre cinco e o quadro nunca tem mais do que quatro lados; e parece impossível que verdades tão evidentes possam incorrer na suspeita de falsidade.

Todavia está gravada no meu espírito uma velha crença, segundo a qual existe Deus que pode tudo e pelo qual fui criado tal como existo. Mas quem me garante que ele não procedeu de modo que não houvesse nem terra, nem céu, nem corpos extensos, nem figura, nem grandeza, nem lugar, e que, no entanto, tudo isto me parecesse existir tal como agora? E mais ainda, assim como concluo que os outros se enganam algumas vezes naquilo que pensam saber com absoluta perfeição, também eu me podia enganar todas as vezes que somasse dois e três ou contasse os lados de um quadrado, ou em algo de mais fácil ainda, se é possível imaginá-lo. Porventura Deus não quis que eu me enganasse deste modo, ele que dizem que é sumamente bom; todavia, se tivesse repugnado à sua bondade criar-me tal que eu me enganasse sempre, também parecia não convir com ela que eu me enganasse algumas vezes, o que, no último caso, não pode afirmar-se que não permite. (…)

Vou supor, por consequência, não o Deus sumamente bom, fonte da verdade, mas um certo génio maligno, ao mesmo tempo extremamente poderoso e astuto, que pusesse toda a sua indústria em me enganar. Vou acreditar que o céu, o ar, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas exteriores não são mais que ilusões de sonhos com que ele arma ciladas à minha credulidade. Vou considera-me a mim próprio como não tendo mãos, não tendo olhos, nem carne, nem sangue, nem sentidos, mas crendo falsamente possuir tudo isto. Obstinadamente, vou permanecer agarrado a este pensamento e, se por este meio não está no meu poder conhecer algo verdadeiro, pelo menos está no meu poder que me guarde com firmeza de dar assentimento ao falso, bem como ao que aquele enganador, por mais poderoso, por mais astuto, me possa impor.

I Meditação

«No entanto, não há dúvida de que também existo, se me engana; que me engane quanto possa, não conseguirá nunca que eu seja nada enquanto eu pensar que sou alguma coisa. De maneira que, depois de ter pesado e repesado muito bem tudo isto, deve por último concluir que esta proposição Eu sou, eu existo, sempre que proferia por mim ou concebia pelo espírito, é necessariamente verdadeira».

II Meditação

Como podemos concluir, existem inúmeras razões para duvidar, a que chamamos razões naturais, nomeadamente, por acusa dos preconceitos e dos juízos precipitados que formulamos na infncia, como já concluímos no primeiro texto apresentado; porque os sentidos nos enganam e «seria imprudência confiar demasiado naqueles que nos enganaram, mesmo quando tivesse sido só uma vez»; porque não temos um critério que permita discernir o sonho da vigília; porque alguns homens se enganaram nas demonstrações matemáticas; e porque é possível que exista um deus enganador, ou um génio maligno, que nos ilude a respeito da verdade, fazendo com que estejamos sempre enganados, seja no tocante às verdades e às demonstrações matemáticas, seja no que se refere à própria existência das coisas (daí o carácter metafísico da dúvida).

A nível das meditações, podemos verificar que, na I Meditação, a referência ao conhecimento sensível implica um problema inteiramente novo: o que Descartes põem em causa não é a adequação entre as nossa percepções e os objectos externos, mas a própria existência destes. Quer isto dizer que, Descartes coloca de imediato um problema ontológico. Pela primeira vez na história do pensamento, a existência do mundo exterior, a correspondência do pensamento com a coisa por detrás dele, são postas em questão.

Mas Descartes coloca ainda um outro problema de igual importncia: ele que desde sempre admirar e se satisfizera com a evidência e a certeza das matemática: que, ao formular o seu método, lhes dera uma função exemplar; ele comete agora a ousadia de admitir que «eu me podia enganar todas as vezes que somasse dois e três ou contasse os lados de um quadrado».

Isto é, a dúvida atinge todas as ciências sem excepção. O que significa que Descartes põem em causa a validade da própria razão, a sua capacidade par distinguir a verdade. A dúvida torna-se metafísica.

Do cogito a Deus

Ainda que quase nenhuma das nossas crenças seja indubitável, Descartes pensa que há algo de que não podemos duvidar. Afinal, se estamos a colocar as nossas crenças em dúvida, estamos a duvidar, e duvidar é uma forma de pensar. E, se estamos a pensar, então existimos. Cada um de nós pode então afirmar com toda a segurança:



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