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LINGUA PORTUGUESA: UMA NOVA GRAMÁTICA, UMA NOVA CONCEPÇÃO DE ENSINO
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De: NATY-NATY  (Mensaje original) Enviado: 03/11/2009 22:27
Resumo: Este artigo vem tratar de questões relevantes que envolvem o ensino de Língua Portuguesa e a forma como este é tratado nas escolas. Aponta as falhas da Gramática Normativa, e também alternativas, novas formas para a elaboração de uma nova gramática que seja mais eficiente, com uma maior sustentação teórica, sistemática e que não apresente falhas como a falta de incoerência interna e caráter predominantemente normativo.

A não valorização das muitas variedades da língua tratando apenas de uma destas variedades é outro fator, ou melhor, outra grande falha da gramática normativa que Perini chama de enfoque apenas em uma variedade da língua, a padrão (escrita), que também será discutido nesse artigo.

A colocação pronominal e a forma como a Gramática Normativa descreve seu uso é outro item que será abordado no trabalho, sendo esta apenas mais uma das tantas descrições de normas e regras que a gramática normativa impõe, que desnorteia os falantes da Língua Portuguesa.

INTRODUçãO


O ensino de gramática nas escolas tanto de ensino médio como anos finais do ensino fundamental nas aulas de Português tornou-se alvo de discussões. A gramática com as falhas que apresenta deixam professores e alunos perdidos. Os professores conhecem suas falhas, mas na maioria das vezes não sabe como lidar com as mesmas, e pior , sabem que não há um outro material a ser utilizado como cita Perini: ' Enquanto a 'crítica da gramática tradicional ' vai aos poucos conquistando um lugar nos cursos de Letras, sente-se agudamente a falta de alternativas viáveis: se a gramática tradicional é inadequada, o que colocar em seu lugar?' (PERINI,1985).

Os alunos por sua vez devido à forma que o ensino lhe é passado acaba por acreditar no velho mito de que gramática é muito difícil, mito este que surge em meio a tantas regras impostas pela Gramática Normativa.

A língua nada mais é que um fator social, sofre mudanças continuamente, por isso não deve ter o mesmo tratamento que teve outrora. Um passo importante a ser dado quando se trata de questões da língua, em especial da Língua Portuguesa é ter plena consciência de que a gramática normativa não pode ser tomada como verdade absoluta. Uma gramática que privilegia apenas uma variante, focada apenas na linguagem padrão (escrita), considerando a escrita como espelho da fala e tratando as demais como 'um problema' precisa ser revista. Essa revisão se torna prioridade para que aconteçam as tão sonhadas mudanças na concepção de ensino de língua portuguesa nas escolas brasileiras.

Faz-se necessário estudos que avaliem a questão acima e discuta com mais afinco os conceitos e regras apresentadas pela Gramática Normativa. É fundamental uma reflexão que possibilite um olhar mais crítico voltado a estas, não esquecendo de buscar soluções, propostas mais coerentes e eficazes, com o intuito de renovar o ensino de gramática, que há muito tem deixado a desejar.

Este artigo tem como objetivo apontar as falhas da Gramática Normativa, sua inconsistência teórica, e propor soluções para as mesmas, além de fazer uma abordagem sobre o ensino de gramática nos dias atuais, refletindo sobre o modo como este tem sido tratado nas salas de aula.

Para frizar a reflexão sobre a gramática normativa e as falhas apontadas na mesma teremos como suporte teórico Perini(2000) e Travaglia (2002)

Para a elaboração do presente artigo foi feita a leitura de diversos textos que abordam a temática e discussões em sala de aula.

Primeiramente será abordado neste artigo as falhas da gramática normativa, criticadas por Perini, seguidas de exemplos que mostram a falta de coerência interna da gramática tradicional. Em seguida faz-se uma retomada das falhas da gramática apontando seu caráter predominantemente normativo e o enfoque apenas na variedade padrão. Mais uma vez cita exemplos, desta vez de predicação verbal, com objetivo de deixar claro a inconsistência desse tipo de gramática. Aborda a questão do ensino de gramática, colocação pronominal e fecha o texto com a conclusão.


DESENVOLVIMENTO


Sabe-se que a língua é heterogênea, é múltipla, variável, instável, está sempre em constantes mudanças. A língua é uma atividade social coletiva que compreende todos os seus falantes, seja pela fala, seja pela escrita. Mas o que dizer então da gramática tradicional que apesar das mudanças correntes na língua continua a mesma? Esta e outras tantas perguntas é que leva alguns especialistas da linguagem a criticarem as gramáticas que aí estão.

As três grandes falhas da gramática tradicional criticadas por Perini, que serão abordadas neste artigo são: sua inconsistência teórica e falta de coerência interna, seu caráter predominantemente normativo; e o enfoque centrado em apenas uma variedade da língua, o dialeto padrão (escrito), com exclusão das demais variantes.

Sua inconsistência teórica e falta de coerência interna pode ser facilmente vista na gramática de Celso cunha. Nesta este define sujeito como:'o termo sobre o qual se faz uma declaração', mas na mesma gramática, páginas adiante ele dá uma definição diferente para o mesmo termo. Observe:


' O SUJEITO é o ser sobre o qual se faz uma declaração' CUNHA, 1975, P.61). Poderíamos citar um exemplo como: 'Júnior é muito inteligente' . Júnior é o sujeito, ele é quem é inteligente. Mas na página 63 Cunha diz o seguinte:

'Algumas vezes o verbo não se refere a uma pessoa determinada, ou por se desconhecer quem pratica a ação, ou por não haver interesse no seu conhecimento diz-se que O SUJEITO É INDETERMINADO' (CUNHA, 1975, P.63). Exemplificando esta outra definição poderíamos citar este exemplo: 'Cortaram a maçã em dois pedaços.' Não se sabe quem cortou a maçã, por isso não se determina o sujeito, ou seja, não é possível nesta frase saber quem praticou a ação de cortar a maçã.

Esses dizeres de Cunha demonstra inconsistência teórica, falta de coerência interna, uma vez que ele dá duas definições para sujeito: o termo sobre o qual se faz uma declaração primeiramente e em seguida o conceitua como o ser que pratica a ação.

Este é apenas um dos muitos exemplos de falta de coerência interna que podemos encontrar nas gramáticas tradicionais, mais adiante neste texto trataremos de dar alguns exemplos sobre predicação verbal.

Retomando as falhas da gramática tradicional nos deparamos com uma outra falha da gramática normativa que também merece destaque: seu caráter predominantemente normativo. A gramática normativa traz em seu corpo muitas normas, regras a serem seguidas mas que não condizem com a realidade. Na maioria das vezes essas regras fazem efeito contrário e obscurecem ao invés de esclarecer. Como já citado anteriormente, a língua é viva, sofre mudanças sempre, e por isso não há regras que perdurem para sempre, não há regras que se apliquem de uma geração até outra. As regras que ditam as gramáticas tradicionais são muito distantes do uso real que o falante faz da língua.

Falando do enfoque centrado em uma única variedade da língua, em que se reconhece apenas o dialeto padrão como correto, pode-se dizer que esta é uma grave falha da gramática tradicional. Como citado anteriormente a língua é viva passou e continuará passando por inúmeras mudanças, o que não faz sentido rotular nenhuma variante como melhor ou pior que a outra. Nem tão pouco afirmar que a variedade padrão escrita é a única correta e que as outras estão erradas.

Voltando a questão da incoerência interna como anunciado no texto anteriormente, exemplificaremos agora dando exemplos de predicação verbal. Rocha lima em sua gramática traz uma lista de verbos que ele chama de verbos de ligação: ser, estar, permanecer, continuar, parecer, andar, ficar.Veja um exemplo:

'Pedro anda doente.'

Realmente este pode ser classificado como verbo de ligação, mas o que dizer de:

'Pedro anda devagar'.

Ou seja , aqui o verbo não pode ser, nem tão pouco é classificado como verbo de ligação, mas como intransitivo, o que demonstra a incoerência do autor ao listar verbos e classificá-los como verbos de ligação, ou transitivos diretos, transitivos diretos e indiretos e intransitivos pois não se trata de uma regularidade. O mesmo acontece com o verbo comer que é classificado como transitivo direto pelo autor. Exemplo:

' O gato comeu o rato'.

Vamos analisar a frase: quem come, come alguma coisa, aqui o rato foi comido, verbo transitivo direto. Mas veja a frase seguinte com o mesmo verbo:

' o gato já comeu'.

Como pode ser visto o verbo comer pode ou não ser transitivo direto pois no segundo caso ele é intransitivo.

Questionados sobre a noção de predicação verbal, autores da gramática normativa na tentativa de amenizar seus erros diz que essa classificação está ligada ao contexto e não propriamente aos verbos, o que não deixa de ser contradição uma vez que a definição de antes foi dada pelo mesmo autor.

Perini então propõe uma alternativa viável à questão da transitividade: um novo sistema que ele chama de aceitação livre, onde verbos como no caso do 'verbo comer 'pode aceitar ou recusar um objeto.

Como visto nos exemplos acima não é por acaso que a gramática tradicional gera tantas críticas. Por isso autores como Perini e outros reconhecem a necessidade de elaboração de uma nova gramática com maior sustentação teórica e consistência interna.

Sabe-se que essas críticas são fundamentais, não são mais que uma mola propulsora a impulsionar não só a elaboração de uma nova gramática mas também uma nova concepção do ensino de Língua Portuguesa. O ensino de gramática apesar de suas falhas não pode ser deixado de lado, mas precisa ser repensado, avaliado por professores, alunos e outros profissionais envolvidos, o próprio autor (Perini) é quem diz que a gramática não deve ser suprimida. Ela precisa apenas ser repassada aos alunos em um outro formato, com mais flexibilidade e acima de tudo aberta a reflexões.

Como já foi dito neste trabalho a forma como a gramática descreve as regras, normas da língua não contribui muito para a aprendizagem do falante da Língua Portuguesa, essa afirmação é muito coerente se analisada juntamente com a colocação dos pronomes clíticos.

Como mostra Perini a gramática descreve inúmeras possibilidades para o uso de próclise e ênclise, mas o problema está exatamente no fato de que enquanto há inúmeros casos de circunstncias em que se usa a próclise e ênclise, há pouquíssimas exceções. Não só neste caso mas em tantos outros a gramática é tão normativa, não sabe fazer mais que ditar regras que não coloca as exceções (nos casos em que estas facilitariam a assimilação) em vez das circunstncias de uso. Caso ela optasse pelas exceções certamente facilitaria a compreensão.


CONCLUSãO


Após essas discussões podemos concluir que as críticas feitas por Perini são pertinentes e necessárias. Enquanto professores continuam a utilizar uma gramática cheia de 'conhecimentos ultrapassados' por falta de um material melhor, a concepção de ensino não muda, estudantes continuam sendo prejudicados.

Partindo destas afirmações nos cabe então saber como os profissionais da educação lidam com os problemas apresentados. Que a gramática apresenta falhas é um fato, mas é fato também que esta não pode deixar de ser ensinada. E agora professor?


O primeiro passo a ser dado é fazer o que fizemos neste artigo, refletir, analisar, mas o próximo passo só pode ser dado por ele: levar os alunos a pensarem, não aceitando tudo o que pregam as gramáticas, despertando-os para suas falhas e juntamente com eles dar significado à aprendizagem, construir sentido para o aprender. Aprender a aprender.

As grandes falhas da gramática normativa não podem ser esquecidas, é preciso questioná-las, fazer uma reflexão em torno até que se elabore uma nova gramática.

Quanto à necessidade de elaboração de uma nova gramática não há o que se discutir. E os principais critérios esperados nesta são muito bem apontados por Perini que diz:: 'Finalmente, e acima de tudo, a gramática deverá ser sistemática, teoricamente consistente e livre de contradições' (PERINI, 2000).



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