[editar] Filosofia ácrata na Grécia da Antiguidade
A utilização das palavras "anarchia" e "anarchos", ambas significando "sem governantes", podem ser traçadas até as Ilíadas de Homero[2] e as Histórias de Herodotus.[3] O primeiro uso político conhecido da palavra anarquia aparece na peça Sete Contra Tebas de Aeschylus, datada de 467 a.C.. Nela, Antigona se recusa abertamente a aceitar o decreto dos governantes a abandonar o corpo de seu irmão Polyneices não sepultado, como punição por sua participação no ataque a Tebas, diante do decreto ela diz "mesmo se ninguém quiser participar comigo, sozinha correrei o risco em sepultar meu próprio irmão. terei eu que agir em oposição desafiadora aos governantes da cidade (ekhous apiston tênd anarkhian polei)".
Aristipo de Cirene, um dos maiores discípulos de Socrates, grande estudioso das questões éticas, certa vez afirmou que os sábios não deveriam abrir mão de suas liberdades em prol do estado.[1]. No entanto, nenhum de seus escritos sobreviveu ao tempo e tudo que se conhece sobre suas reflexões está baseado nas obras de seus comentadores.
A Grécia Antiga também viu florescer a primeira instncia do anarquismo enquanto ideal filosófico. Os Cínicos Diógenes de Sínope e Crates de Tebas advogaram por formas anárquicas de sociedade, mas pouco resta de seus escritos.[4] O filósofo Zenão de Cítio o fundador do Estoicismo, muito influenciado pelos Cínicos, descreveu sua visão de uma sociedade horizontal em torno de 300 a.C.[5] A República de Zenão se baseava em uma forma de anarquismo onde não existia necessidade de estruturas estatais. Zenão era, de acordo com Kropotkin, "O maior expoente da filosofia anarquista na Grécia Antiga". Como resumido por Kropotkin, Zenão "repudiava a onipotência do estado, sua intervenção e regimentação, e proclamava a soberania da lei moral do indivíduo". Na filosofia grega, a visão de Zenão de comunidade livre sem governo é oposta a utopia pró-estatal da República de Platão. Em oposição a Platão, Zenão argumentava que a razão poderia substituir a autoridade na administração dos assuntos humanos. Sua defesa da anarquia se baseava na premissa de que o instinto de auto-preservação necessariamente levaria os humanos ao egoísmo, no entanto, a natureza teria suprido o homem com um corretivo para esse aspecto, um outro instinto de sociabilidade. Como muitos anarquistas modernos, ele acreditava que se fosse permitido aos povos seguissem seus instintos, não precisariam de leis, cortes ou polícia, nem de templos ou espaços de adoração pública, não utilizariam dinheiro e formas de economia do dom tomariam seu lugar nas trocas. As reflexões de Zenão só chegaram até contemporneidade na forma de trechos fragmentados.[2]
Satirizando seus conterrneos
Diógenes procura um ser humano em meio a cidade noturna. Pintura atribuída a
J. H. W. Tischbein (c. 1780)
Em Atenas, o ano 404 a.C. foi comumente conhecido como "o ano da anarquia". De acordo com o historiado Xenofonte, trata-se de fato de um período em que Atenas foi governada pela oligarquia dos "Trinta", instalada pelos espartanos após sua vitória na segunda guerra do Peloponeso, e devido ao fato de que existia um Arconte no governo, nomeado pelos oligarcas, na pessoa de Pythodorus, os atenienses se recusaram a aplicar na ocasião seu costume de chamar o ano pelo nome do arconte, preferindo chamá-lo de 'ano da anarquia'".
Os filósofos gregos Platão e Aristoteles utilizaram o termo anarquia em seu sentido negativo, em associação com a idéia de democracia a qual acreditavam ser inerentemente vulnerável e passível de deteriorar em tirania. Platão acreditava que a corrupção criada pela democracia propiciava a hierarquia "natural" entre classes sociais, gêneros e grupos de idade, para sua ampliação "anarquia encontra um caminho nas casas privadas, e termina por chegar até os animais e infectá-los". ('República', livro 8). Aristoteles diz em seu livro sei das 'Políticas' quando discute revoluções, que as classes superiores podem ser motivadas a levar a cabo um grupo em suas contendas para prevenir a "desordem e anarquia (ataxias kai anarkhias) nos assuntos do estado. Este filósofo também associou a anarquia com a democracia quando afirmou existirem traços "democráticos" nas tiranias, denominou a anarquia uma licença possível entre escravos (anarkhia te doulôn)" bem como entre mulheres e crianças. "Uma constituição deste tipo", concluiu, "terá um amplo número de apoiadores já que viver desordenadamente (zên ataktôs) é mais prazeroso às massas que levar uma vida sóbria".