O Principado de Antioquia, cujo território incluía partes dos actuais estados da Turquia e da Síria, foi um dos estados latinos do Oriente criados durante a Primeira Cruzada. Tinha a sua capital na cidade de Antioquia.
Mesmo durante o período de maior extensão territorial, era muito menor que o Condado de Edessa e o Reino Latino de Jerusalém. Localizava-se no limite nordeste do mar Mediterrneo, fazendo fronteira com o Condado de Trípoli a sul, Edessa a leste, e o Reino Arménio da Cilícia ou o Império Bizantino a noroeste, dependendo da data.
Tinha provavelmente cerca de 20.000 habitantes no século XII, a maioria dos quais arménios e cristãos ortodoxos gregos, com alguns muçulmanos vivendo fora da cidade. A maioria dos cruzados que se estabeleceram em Antioquia eram normandos e/ou do sul da Itália, uma vez que os primeiros governantes do principado, destas origens, se cercaram dos seus súbditos leais. Havia poucos católicos romanos para além dos próprios cruzados, apesar de a cidade passar ao estatuto de patriarcado latino em 1100.
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A fundação do principado deve-se à vontade de Boemundo I de Taranto em estabelecer um estado seu na Terra Santa. Antes de participar na cruzada este, primogénito de Roberto Guiscardo, viu-se preterido na sucessão para o ducado de Apúlia e Calábria em favor do seu meio-irmão Rogério Borsa.
Antioquia era uma antiga cidade bizantina que tinha sido conquistada pelos muçulmanos há apenas cerca de uma década, em 1085. E quando os exércitos cruzados passaram por Constantinopla, o imperador bizantino Aleixo I Comneno exigira dos líderes o juramento de entregarem as terras reconquistadas aos bizantinos.
Enquanto Balduíno de Bolonha e Tancredo da Galileia seguiram para leste a partir da Ásia Menor para fundar o Condado de Edessa, o exército principal da Primeira Cruzada continuou em direcção ao sul para cercar Antioquia. Boemundo I de Taranto liderou o cerco, iniciado em Outubro de 1097.
Com mais de quatrocentas torres, a cidade era quase impenetrável e o cerco arrastou-se pelo Inverno, causando grandes dificuldades para os cruzados que foram frequentemente forçados a comer até os próprios cavalos ou, conforme as lendas, os corpos dos companheiros cristãos que não sobreviveram.
Face às dificuldades do cerco, Boemundo viu a ocasião de tomar um domínio para si. Imediatamente ameaçou, com o pretexto da demora do cerco, voltar a Itália para trazer reforços, mas as suas capacidades estratégicas e a importncia do contingente que o acompanhava eram absolutamente necessárias à cruzada. Por isso foi-lhe prometido tudo o que quisesse para continuar.
Entretanto a partida de Tatizius, o representante de Bizncio, deu-lhe um pretexto para alegar uma traição, o que podia autorizar os cruzados a considerarem-se livres do seu juramento a Aleixo I Comneno.
Boemundo acabou por convencer um guarda de uma das torres, um cristão convertido ao Islão chamado Firouz, a permitir a entrada dos cruzados. Fez os outros líderes prometerem que tomaria a sua posse o primeiro a entrar na cidade, o que aconteceu a 3 de Junho de 1098, seguindo-se o massacre dos habitantes muçulmanos.
Somente quatro dias depois, um exército muçulmano liderado pelo general Kerbogha chegou de Mossul para sitiar os até ao momento sitiadores da cidade. Aleixo I Comneno, vinha a caminho para auxiliar os cruzados mas voltou para trás ao ouvir as notícias de que a cidade já tinha sido retomada.
No entanto os cruzados ainda resistiam ao cerco, com a ajuda de um monge chamado Pedro Bartolomeu. Este afirmava ter sido visitado por Santo André, que lhe teria contado que a lança do destino, que feriu o flanco de Cristo na cruz, encontrava-se em Antioquia. Foi feita uma escavação na igreja de São Pedro e a lança foi descoberta pelo próprio Pedro Bartolomeu.
Apesar de se pensar que tinha sido o monge a colocar a falsa relíquia no local (até o legado papal Ademar de Monteil acreditava nisto), o logro melhorava a moral dos sitiados. Com este novo objecto santo à cabeça do exército, Boemundo marchou ao encontro de Kerbogha, a quem derrotou miraculosamente - milagre segundo os cruzados, que afirmavam ter surgido um exército de santos a combater juntamente com eles no campo da batalha.
Houve então uma longa disputa sobre quem teria o controlo da cidade. Boemundo, apoiado pelos outros normandos italianos, acabou por vencer e declarar-se príncipe. Uma vez que já era príncipe de Taranto, na Itália, e desejava manter a sua independência no seu novo domínio, não quis receber o título de duque do imperador bizantino (por quem tivera feito um juramento de lutar), nem outro título nobiliárquico que implicasse rígidas obrigações feudais, como conde.
Tal como em Jerusalém, na organização de Antioquia foram estabelecidos os cargos de senescal, condestável, marechal, mordomo, camareiro e chanceler. Entretanto deflagrou uma epidemia desconhecida no campo dos cruzados e Ademar de Monteil foi uma das vítimas.
[editar] Décadas iniciais
Quando Boemundo I de Antioquia foi capturado em batalha pelos turcos danismendidas em 1100, o seu sobrinho Tancredo da Galileia tornou-se regente, aumentando o principado ao tomar as cidades de Tarso e Latakia do Império Bizantino. Boemundo foi libertado em 1103 mas voltou a colocar Tancredo na regência quando viajou para a Itália para recrutar mais forças em 1105.
Estes reforços foram usados para atacar os bizantinos em 1107, e quando foi derrotado em Dyrrhachium em 1108, Boemundo foi forçado por Aleixo I Comneno a assinar o Tratado de Devol, que tornou Antioquia num estado vassalo do Império Bizantino após a sua morte. Note-se que, ao passar por Constantinopla em 1097 Boemundo, tal como os outros líderes cruzados, já tinha sido obrigado a jurar entregar a Aleixo qualquer terra conquistada aos muçulmanos.
Boemundo também combateu contra Alepo ao lado do Balduíno I de Jerusalém e Joscelino I do Condado de Edessa. Quando estes foram capturados, Tancredo tornou-se regente também de Edessa. Boemundo deixou Tancredo mais uma vez na regência e voltou à Itália, onde morreu em 1111.
Aleixo pretendia então que Tancredo devolvesse todo o principado a Bizncio, mas este foi apoiado pelo Condado de Trípoli e pelo Reino de Jerusalém. E tinha sido o único líder cruzado a não jurar entregar as terras conquistadas a Aleixo, apesar de nenhum dos líderes que fizeram o juramento o terem cumprido.
Tancredo morreu em 1112 e foi sucedido por Boemundo II de Antioquia, sob a regência de Rogério de Salerno, sobrinho de Tancredo que derrotou um ataque de turcos seljúcidas em 1113. Mas em 27 de Junho de 1119 Rogério morreu na Batalha de Ager Sanguinis (Campo de Sangue), e Antioquia tornou-se num vassalo de Jerusalém, com Balduíno II de Jerusalém como regente até 1126, apesar de em muito deste tempo se encontrar prisioneiro em Alepo.
Boemundo II, que se casou com a filha de Balduíno, Alice de Antioquia, governou durante apenas quatro anos, e o principado foi herdado pela sua filha mais nova, Constança de Antioquia. Balduíno II assumiu mais uma vez a regência até à sua morte em 1131, quando Fulque de Jerusalém assumiu o poder. Em 1136 Constança, ainda com apenas 10 anos de idade, casou-se com Raimundo de Poitiers, com 36 anos de idade.
Raimundo, tal como os seus predecessores, atacou a província bizantina da Cilícia. Mas desta vez o imperador João II Comneno ripostou. Chegou a Antioquia em 1138 e obrigou Raimundo a jurar-lhe vassalagem, mas um motim instigado por Joscelino II de Edessa forçou-o a sair da cidade. João tencionava reconquistar todos os estados cruzados mas morreu em 1142.