Balanço de massa em glaciares
Este mapa mostra as mudanças nos balanços de massa em glaciares de montanha desde 1970: adelgaçamento a amarelo e vermelho e espessamento a azul.
Balanço de massa dos glaciares a nível global, nos últimos 50 anos, relatado ao
WGMS e
NSIDC. A tendência crescente de diminuição nos finais da década de 1980 é sintomática do aumento do ritmo de recuo e do número de glaciares em recuo.
Crucial para a sobrevivência de um glaciar é o seu balanço de massa, isto é, a diferença entre a acumulação e a ablação (a perda de gelo por derretimento e sublimação) num glaciar. As alterações climáticas podem provocar variações na temperatura e na queda de neve, levando a mudanças no balanço de massa. Um glaciar com um balanço negativo continuado não está em equilíbrio e retrocederá. Um glaciar com um balanço positivo está também fora de equilíbrio, e avançará para restabelecê-lo. Actualmente há alguns glaciares em crescimento, apesar de os seus modestos ritmos de crescimento sugerirem que não se encontram muito longe do ponto de equilíbrio.[5]
O recuo de um glaciar resulta na perda da sua região menos elevada. Uma vez que nas elevações maiores as temperaturas são mais baixas, o desaparecimento da porção mais baixa de um glaciar reduz a perda total, aumentando assim o balanço de massa e potencialmente reestabelecendo o equilíbrio. Porém, se o balanço de massa de uma porção significativa da zona de acumulação é negativo, o glaciar encontra-se em desequilíbrio com o clima e derreterá se este não se tornar mais frio e/ou se não ocorrer um aumento na quantidade de precipitação gelada.
O sintoma chave de um glaciar em desequilíbrio é o seu adelgaçamento ao longo de toda a sua extensão.[6][7] Por exemplo, o glaciar Easton (ver abaixo) provavelmente diminuirá a sua extensão para metade, mas com um ritmo de redução decrescente. No entanto, o glaciar Grinnell, verá a sua extensão diminuída a um ritmo crescente, até desaparecer totalmente. A diferença entre estes dois casos é que a secção superior do glaciar Easton mantém-se em bom estado e coberta de neve, enquanto que mesmo na sua secção mais elevada o glaciar Grinnell se encontra sem cobertura de neve, derretendo-se e diminuindo a sua espessura. Pequenos glaciares com pequena variação da altitude ao longo da sua extensão entram mais facilmente em desequilíbrio com o clima.
Os métodos utilizados para medir o recuo dos glaciares incluem a marcação do seu ponto terminal, cartografia por GPS, cartografia aérea e altimetria por laser.
[editar] Glaciares tropicais
Os glaciares tropicais encontram-se situados entre o Trópico de Cncer e o Trópico de Capricórnio, na região entre 23º26'22 a norte ou sul do equador. Os glaciares tropicais são os mais estranhos de todos os glaciares, por várias razões. Em primeiro lugar, os trópicos são a zona mais quente do planeta. Além disso, as mudanças sazonais são mínimas com temperaturas elevadas durante todo o ano, resultando na ausência de um inverno frio durante o qual a neve e o gelo se possam acumular. Por último, são poucas as montanhas situadas nestas regiões suficientemente altas para que sobre elas exista ar suficientemente frio para que se formem glaciares. Todos os glaciares situados nos trópicos encontram-se em picos montanhosos isolados e elevados. De um modo geral, os glaciares tropicais são menores que os encontrados nas outras regiões e são os que mais facilmente mostram uma resposta rápida a padrões climáticos em mudança. Um pequeno aumento de temperatura, de apenas alguns graus, pode ter um impacto quase imediato e adverso nos glaciares tropicais.[8]
Com a quase totalidade do continente africano situado nas zonas de clima tropical e subtropical, os glaciares restringem-se a dois picos isolados e à cordilheira de Ruwenzori. O Kilimanjaro, com 5895 m, é o pico mais alto do continente. Desde 1912, a cobertura glaciar no cume do Kilimanjaro, regrediu aparentemente 75%, e o volume de gelo é actualmente 80% menor do que aquele de há um século atrás, devido ao recuo e ao adelgaçamento.[9] No período de 14 anos compreendido entre 1984 e 1998, uma secção do glaciar no cume desta montanha regrediu 300 m.[10] Um estudo efectuado em 2002 determinou que, mantidas as condições actuais, os glaciares no cume do Kilimanjaro desaparecerão entre 2015 e 2020 .[11][12] Um relatório de Março de 2005 indicava que já quase não resta gelo glaciar nesta montanha, sendo a primeira vez em 11 000 anos que o solo é exposto em porções do cume.[13][14]
O glaciar Furtwängler situa-se próximo do cume do Kilimanjaro. Entre 1976 e 2000, a área deste glaciar diminuíu quase 50%, de 113 000 m² para 60 000 m² .[15] Durante trabalhos de campo efectuados no início de 2006, os cientistas descobriram um grande buraco próximo do centro deste glaciar. Este buraco, atravessando a espessura restante do glaciar até à rocha subjacente, que é igual a 6 m, deverá aumentar de tamanho e partir o glaciar em dois em 2007.[16]
A norte do Kilimanjaro situa-se o Monte Quénia, que com os seus 5 199 m de altitude é a segunda montanha mais alta do continente africano. O Monte Quénia tem vários pequenos glaciares que perderam pelo menos 45% da sua massa desde meados do século XX. De acordo com dados compilados pelo U.S. Geological Survey (USGS), em 1900 existiam dezoito glaciares no Monte Quénia e em 1986 apenas restavam onze. A área total coberta pelos glaciares era 1.6 km² em 1900, porém em 2000 apenas cerca de 25% (ou 0.4 km²) desta área subsistia.[17] A ocidente dos montes Kilimanjaro e Quénia, erguem-se a uma altitude de 5 109 m os Montes Ruwenzori. Evidências fotográficas deste conjunto de elevações mostram uma redução marcada das áreas cobertas por glaciares durante o século passado. No período de 35 anos compreendido entre 1955 e 1990, os glaciares nos Montes Ruwenzori recuaram cerca de 40%. Dada a sua proximidade à forte humidade da região do Congo, crê-se que os glaciares nos Montes Ruwenzori possam ter um ritmo de recuo mais lento que os do Kilimanjaro e Quénia.[18]
Um estudo efectuado por glaciólogos na América do Sul, revela outro recuo. Mais de 80% de todo o gelo glaciar nos Andes setentrionais encontra-se concentrado nos picos mais altos em pequenos glaciares com cerca de 1 km² de superfície. Uma observação efectuada aos glaciares de Chacaltaya na Bolívia e Antizana no Equador entre 1992 e 1998 indica que a taxa de perda de espessura em cada um destes glaciares se situou entre 0.6 e 1.4 m por ano. Os números referentes ao glaciar de Chalcataya mostram uma perda de 67% do seu volume e de 40% da sua espessura durante o mesmo período. Desde 1940 o glaciar de Chacaltaya perdeu cerca de 90% da sua massa e espera-se que desapareça totalmente entre 2010 e 2015. Outros estudos indicam que desde meados da década de 1980, o ritmo de recuo destes glaciares tem aumentado.[19]
Glaciares de Puncak Jaya em 1972. Da esq. para a dir.: Northwall Firn, Glaciar Meren e Glaciar Carstensz. (USGS)
Mais para sul, no Peru, os Andes atingem de um modo geral altitudes mais altas, existindo aqui cerca de 722 glaciares que cobrem uma área de 723 km². A investigação sobre esta zona dos Andes é menos extensa e aponta para um recuo total de 7% entre 1977 e 1983.[20] A calota de Quelccaya é a maior calota de gelo tropical do mundo, e todos os glaciares que nela têm a sua origem se encontram em recuo. No caso do maior destes glaciares, o glaciar Qori Kalis, a velocidade de recuo atingiu os 155 m por ano durante o período de três anos ente 1995 e 1998. O gelo derretido formou um grande lago na frente do glaciar desde 1983, e pela primeira vez em milhares de anos os solos subjacentes foram postos a descoberto.[21]
Na grande ilha da Nova Guiné, existem evidências fotográficas de um recuo maciço de glaciares desde a exploração aérea da região no início da década de 1930. Dada a posição desta ilha dentro da zona tropical, a variação sazonal da temperatura varia de pouca a nenhuma. A localização tropical tem um nível de precipitação (chuva e neve) previsivelmente estável, bem como nebulosidade durante todo o ano, e não ocorreu uma alteração significativa na quantidade de humidade durante o século XX. Com 7 km² a calota de gelo de Puncak Jaya é a maior da ilha, e desde 1936 retrocedeu de uma única massa maior para vários pequenos corpos glaciares. Nestes glaciares mais pequenos, investigações feitas entre 1973 e 1976 mostraram um recuo de 200 m no glaciar Meren e de 50 m no glaciar Carstensz. O Northwall Firn, um dos maiores blocos restantes da calota de gelo que outrora se situava nos cumes de Puncak Jaya, dividiu-se em vários glaciares individualizados desde 1936. O recurso a imagens do satélite IKONOS obtidas em 2004 sobre os glaciares da Nova Guíné forneceu novas e dramáticas informações. As imagens indicavam que no período de dois anos entre 2000 e 2002, a parte oriental do Northwall Firn havia perdido 4.5% da sua massa, a parte ocidental 19.4% e Carstenz 6.8%. Ficou-se também a saber que, em algum momento entre 1994 e 2000 o glaciar Meren havia desaparecido.[22] Além dos glaciares de Puncak Jaya, outra pequena mancha de gelo que se sabe ter existido no cume do Puncak Trikora desapareceu completamente entre 1939 e 1962.[23]