Filosofia e obra
O propósito da filosofia para Epicuro era atingir a felicidade, estado caracterizado pela aponia, a ausência de dor (física) e ataraxia ou imperturbabilidade da alma. Ele buscou na natureza as balizas para o seu pensamento: o homem, a exemplo dos animais, busca afastar-se da dor e aproximar-se do prazer. Estas referências seriam as melhores maneiras de medir o que é bom ou ruim. utilizou-se da teoria atômica de Demócrito para justificar a constituição de tudo o que há. Das estrelas à alma, tudo é formado de átomos, sendo, porém de diferentes naturezas. Dizia que os átomos são de qualidades finitas, de quantidades infinitas e sujeitos a infinitas combinações. A morte física seria o fim do corpo (e do indivíduo), que era entendido como somatório de carne e alma, pela desintegração completa dos átomos que o constituem. Desta forma, os átomos, eternos e indestrutíveis, estariam livres para constituir outros corpos. Essa teoria, exaustivamente trabalhada, tinha a finalidade de explicar todos os fenômenos naturais conhecidos ou ainda não e principalmente extirpar os maiores medos humanos: o medo da morte e o medo dos deuses. Naqueles tempos, Epicuro percebeu que as pessoas eram muito supersticiosas e haviam se afastado da verdadeira função das religião e dos deuses. Os deuses, segundo ele, viviam em perfeita harmonia, desfrutando da bem-aventurança (felicidade) divina. Não seria preocupação divina atormentar o homem de qualquer forma. Os deuses deveriam ser tomados como foram em tempos remotos, modelos de bem-aventurança que servem como modelo para os homens e não seres instáveis, com paixões humanas, que devem ser temidos. Desta forma procurou tranquilizar as pessoas quanto aos tormentos futuros ou após a morte. Não há por que temer os deuses nem em vida e nem após a vida. E além disso, depois de mortos, como não estaremos mais de posse de nossos sentidos, será impossível sentir alguma coisa. Então, não haveria nada a temer com a morte. No entanto, a caminho da busca da felicidade, ainda estão as dores e os prazeres. Quanto às dores físicas, nem sempre seria possível evitá-las. Mas Epicuro faz questão de frisar que elas não são duradouras e podem ser suportadas com as lembraças de bons momentos que o indivíduo tenha vivido. Piores e mais difícies de lidar são as dores que perturbam a alma. Essas podem continuar a doer mesmo muito tempo depois de terem sido despertadas pela primeira vez. Para essas, Epicuro recomenda a reflexão. As dores da alma estão frequentemente associadas às frustrações. Em geral, oriunda de um desejo não satisfeito. Encontramos aqui um dos pontos fundamentais para o entendimento dessa curiosa doutrina, que também foi tomada por seus seguidores e discípulos como um evangelho ou boa nova, o equacionamento entre dores e prazeres.
Das 300 obras escritas pelo filósofo, restaram apenas três cartas que versam sobre a natureza, sobre os meteoros e sobre a moral, e uma coleção de pensamentos, fragmentos de outras obras perdidas. Estas cartas, com os fragmentos, foram coligidos por Hermann Usener sob o título de Epicurea, em 1887. Por suas proposições filosóficas Epicuro é considerado um dos precursores do pensamento anarquista no período clássico.