O século XVI
As dificuldades de aproveitamento agrícola nas ilhas foram apontadas desde as suas primeiras descrições, como a de Duarte Pacheco Pereira, que nelas esteve algumas vezes ainda no século XV:
- "Estas ilhas são estéreis porque são vizinhas do trópico de Cncer e têm muito pouco arvoredo por causa de nelas não chover mais dos ditos três meses: são terras altas e fragosas e serão más de andar (...) os frutos não se dão nesta terra senão de regadio." (Esmeraldo de Situ Orbis, livro I, cap. XXVIII).
Ainda assim, já no século XVI os principais itens da pauta de exportações das ilhas são couros, sebo, algodão, cavalos, açúcar, aguardente e frutas como figos, uvas e melões, além da reexportação de tecidos ("panos") para o continente africano.
Por volta de 1513-1515 o comércio de escravos encontra-se em vigorosa expansão. O seu principal centro, a Ribeira Grande de Santiago (atual "Cidade Velha"), em 1533 foi elevado à categoria de cidade, tornando-se sede de um Bispado. A sua importncia era de tal ordem que, já em 1541, foi assaltada por piratas da Barbária e, por duas vezes - em 1578 e em 1585 - pelo corsário Inglês Francis Drake.
Em 1587 Duarte Lobo foi nomeado primeiro governador de Cabo Verde, e, na Ribeira Grande, iniciam-se as obras do Forte Real de São Filipe.
Nesse final de século, o cronista Gabriel Soares de Sousa, em sua "Notícia do Brasil" (1587), registra a importncia de Cabo Verde para o processo de colonização do Brasil, no tocante à aclimatação e introdução de diversas espécies de animais e plantas, essenciais à história económica deste último, a saber: "...as primeiras vacas que foram à Bahia levaram-nas de Cabo Verde e depois de Pernambuco, as quais se dão de feição, que parem cada ano e não deixam nunca de parir por velhas", "As éguas foram à Bahia de Cabo Verde, das quais se inçou a terra", "As ovelhas e cabras foram de Portugal e de Cabo Verde, as quais se dão muito bem", "E comecemos nas canas-de-açúcar, cuja planta levaram à capitania dos Ilhéus das ilhas da Madeira e de Cabo Verde", "As palmeiras que dão os cocos, se dão na Bahia melhor que na Índia...", "...foram os primeiros cocos à Bahia de Cabo Verde, donde se encheu a terra...", o arroz "é tão grado e formoso como o de Valência", "Levaram a semente do arroz ao Brasil de Cabo Verde", e ainda "Da ilha de Cabo Verde e de S. Tomé foram à Bahia inhames que se plantaram na terra logo, onde se deram de maneira que pasmam os negros da Guiné, que são os que usam mais deles".