Luciana Bezerra
A madrugada parece cada vez maior
E eu não quero dormir
Pois tenho medo de continuar sonhando
É que eu temo, na verdade, acordar
É que eu não sei se quero outro sonho
Sei menos ainda se esse sonho é meu
Sei menos que isso se isso é sonho
Você não conhece nenhum pronome possessivo
Não dá pra saber se luta pelo que é seu
Não dá pra saber se quer posse de coisa alguma
Não dá bandeira, não dá o braço a torcer
Não abraça com a alma o que envolve com o corpo
Não confessa, não desmente
Não contesta, não ataca e não defende
Sequer sabe
Sei menos ainda
Sei apenas do teu sorriso
Daquele que não sai nas fotos
Sei pouco das muitas manias
Contei alguns sinais
Decorei alguns gestos
Condicionei-me a ouvir sua voz e seu silêncio
E quanto mais penso, menos entendo
Sei menos ainda
Sobre o porquê de guardar tudo isso
Sei lá se estou semeando ou colhendo
Sei menos sobre o que estou fazendo
Do que achei que soubesse enquanto estava inerte
Não sei onde estou
Mas temo saber que estou seguindo seu rastro
É a condução da dança de quem diz não saber dançar
E como explicar que eu saí do lugar?
Ou estaria eu tonta das voltas que a vida me deu?
Sei menos ainda
A hora em que a música termina
Sei menos ainda
Se existe alguma tocando
Mas ouvi dizer que na métrica da música
Há espaço para silêncio
E na métrica da dúvida
O silêncio é o espaço
Que divide
Estou cheia de silêncios
Partindo-me ao meio
Sei menos ainda
Se estará o coração vazio ou cheio
Quando uma palavra sua me alcançar
Se uma palavra vier
Sei menos ainda se virá
Sequer sabe
Se quer, sabe
Se quer saber:
Sei menos ainda