Oração do Pao
Guerra Junqueiro
Com
quantos grãos de trigo um pão se fez? Dez mil
talvez?
Dez
mil almas, dez mil calvários e agonias, Todos os
dias,
Para
insuflar alentos n'alma impura Duma só criatura!
Homem, levanta a Deus o coração, Ao ver o
pão.
Ei-lo
em cima da mesa do teu lar; Olha a mesa: um altar!
Ei-lo, o vigor dos braços teus, O pão de
Deus!
Ei-lo, o sangue e a alegria, Que teu peito robora e
teu crnio alumia!
Ei-lo
a fraternidade, Ei-lo, a piedade, Ei-lo, a
humildade,
Ei-lo
a concórdia, a bem-aventurança, A paz em Deus, tranqüila e
mansa!
Comer
é comungar. Ajoelha, orando, Em frente desse pão, ou duro ou
brando.
Antes
que o mordas, tigre carniceiro, Ergue-o na luz, beija-o
primeiro!
Depois devora! O pão é corpo e alma Em corpo e
alma O comerás, Tigre voraz.
São
dez mil almas brancas, cor de Lua, Transmigrando divinas para a
tua!

|