Orlando Castro
U m milh찾o de pessoas podem ser afectadas pelas cheias que assolam o vale do Zambeze, centro de Mo챌ambique, e cujo ponto alto deverá ser em Fevereiro e Mar챌o. Até agora, já s찾o mais de 62 mil os deslocados, segundo os dados oficiais que, contudo, n찾o batem certo com os das organiza챌천es humanitárias que est찾o no terreno e que apontam para mais vítimas. Também quanto a mortos, o Governo fala em oito, mas poder찾o ser várias dezenas.
Os países doadores v찾o, segunda-feira, analisar o actual problema das cheias e, como admite o Governo de Armando Guebuza, procurar saber se as medidas preventivas sugeridas e financiadas em anos anteriores foram implementadas. Embora Maputo garanta que sim e que tem a situa챌찾o sob controlo, persistem algumas dúvidas.
"Há, na região, nove bacias hidrográficas e as chuvas que têm caído abundantemente em toda a África Austral, em conjugação com a saturação dos solos das cheias do ano passado e com a "La Niña" (tempestade tropical), têm enchido o leito dos principais rios que desaguam no Oceano Índico, passando todos por Moçambique", explicou à Lusa o director do Instituto Nacional de Meteorologia de Moçambique, Moisés Benesene.
"Em caso de grandes cheias, como as que se perspectivam para este ano, nada há a fazer e nem a constru챌찾o de novas barragens ajudaria", afirma Moisés Benesene, para quem "apenas se podem minimizar os estragos, nomeadamente através da preven챌찾o, dos avisos prévios e de programas concertados de evacua챌찾o das popula챌천es ribeirinhas".
No rio Zambeze, um dos mais importantes de toda a África, existem 30 barragens espalhadas desde a Zâmbia, onde nasce, até ao Índico, pelo que a resolução do problema é uma questão regional apesar de afectar sobretudo Moçambique que está no fim da linha.
"Apesar de estarem a trabalhar no mesmo território, os dados das equipas do Governo e das agências humanitárias internacionais divergem", afirmou ao JN o jornalista Jorge Eurico, acrescentando que, "contrariando as decisões do Executivo de Maputo, que diz controlar a crise e não ser necessária para já ajuda internacional, há países que estão a enviar apoio, demonstrando que dão pouca credibilidade às informações oficiais e que fundamentam as decisões no que pensam as organizações humanitárias que estão no terreno".
Segundo o director do jornal "O Observador", de Maputo, "as cheias, embora sejam notícia em todo o Mundo, est찾o a passar ao lado quer da popula챌찾o quer dos poderes estabelecidos na capital e até mesmo dos media".
"Estranhamente, ou n찾o, os maputenses quase que n찾o falam, n찾o ligam, n찾o se preocupam com o que se está a passar naquele ponto do território nacional", lamenta Jorge Eurico, acrescentando que é, contudo, "visível o aproveitamento político por parte da FRELIMO, que mobilizou especialistas para apoiar as vítimas, ao contrário da RENAMO, apesar de a regi찾o atingida lhe ser tradicionalmente afecta".