Uma panorâmica da Ásia tradicional no Museu do Oriente
MARIA JOÃO PINTO
Tudo começou com a paixão de um homem por marionetas chinesas. Movido por esse gosto, esse homem, chinês de Hong Kong e banqueiro toda a sua vida, foi construíndo, ano após ano, a sua colecção. Em finais dos anos 60, essa mesma paixão por marionetas chinesas fá-lo-ia cruzar-se com o sinólogo francês Jacques Pimpaneau, nessa época a trabalhar em Hong Kong. A amizade que se estabeleceu entre ambos levaria o primeiro a doar-lhe a sua colecção, corria então o ano de 1971. A partir desse legado nasceria, depois, um museu - o Museu Kwok On, de Paris, assim chamado em homenagem ao homem que tornara possível essa colecção. Colecção que, doada por Jacques Pimpaneau à Fundação Oriente, em 1999, está hoje em solo português.
Será a partir da próxima quinta-feira, data de inaugura챌찾o do Museu do Oriente, onde constituirá um dos seus principais núcleos, que será possível conhec챗-la. "Passo a passo", como refere ao DN gente Sylvie Pimpaneau, conservadora e comissária, em parceria com o seu marido, das exposi챌천es que ter찾o por base esta colec챌찾o.
E passo a passo será porque a colecção que o Senhor Kwok On pacientemente reuniu cresceu exponencialmente. Considerada a mais importante no seu género em território europeu, graças às aquisições que Jacques Pimpaneau foi fazendo ao longo dos anos, integra hoje cerca de 13 mil peças, cobrindo geograficamente toda a Ásia, no seu sentido mais lato, "da Turquia ao Japão". Em termos numéricos, o legado original representará hoje "cerca de três por cento da totalidade da colecção", diz Sylvie Pimpaneau. Também o seu âmbito se alargou com o tempo, cruzando as "artes do espectáculo com a religião, a mitologia e a literatura asiáticas". Deuses da Ásia, marcando a abertura do Museu do Oriente, será a primeira dessas exposições.
Treze mil pe챌as - como as que ilustram estas páginas - que, numa explos찾o de cor e de forma, escala e detalhe, cruzam os campos da escultura, iconografia e traje, máscaras, jogos tradicionais, instrumentos musicais, marionetas, teatro de sombras. Pelo seu número e diversidade e também por raz천es de conserva챌찾o, a colec챌찾o será apresentada em regime de rotatividade, ocupando cada mostra todo o circuito expositivo do piso 2 do Museu do Oriente.
"Talvez em dez anos seja possível mostrar toda a colec챌찾o", diz Sylvie Pimpaneau, sublinhando o compromisso de que ela continuará a crescer: "Uma colec챌찾o que n찾o evolui é uma colec챌찾o que morre, pelo que há que continuar a enriquec챗-la."
Anualmente, e como tem feito até aqui, o casal viaja pela Ásia em busca de novas peças para a colecção. É sobretudo nos meios rurais, "onde as tradições se mantêm mais presentes", que as encontram. Em meio urbano, sobretudo nas grandes metrópoles, algo mudou, no entanto, "nos últimos 15 anos", dificultando essa recolha: um mercado emergente, "associado à moda das artes 'primitivas'", no qual "objectos simples atingem preços astronómicos".
A cadência de cada mostra temporária, essa, será de 14 meses, volvidos os quais o acervo se renovará com novos temas. Futuramente, um deles "será o Ramayana, uma das grandes epopeias da Índia", posteriormente difundida para lá das suas fronteiras.
"Criar um público fiel" é outro dos objectivos. Especializado ou não especializado, sublinha, todos os públicos serão bem-vindos. "Serão exposições acessíveis a toda a gente. Qualquer pessoa, não importa a sua idade, nível de instrução ou classe social, compreenderá à sua maneira o que aqui se expõe e aprenderá alguma coisa, que aprofundará depois, se assim o desejar". "Colecção de etnografia cultural", lembra Sylvie Pimpaneau, a Colecção Kwok On pretende ser, no fundo, uma janela sobre a Ásia e a(s ) sua(s ) cultura(s). "Tendo sido os Portugueses os primeiros a descobri-la", o significado será, aqui, ainda mais forte.|