Presidente Barack Hussein Obama?
2008-06-06
No seu aplaudido e profundo discurso sobre relações raciais nos EUA, Barack Hussein Obama disse: "Sou o filho de um homem negro do Quénia, e de uma mulher branca do Kansas. Cresci com a ajuda de um avô branco, que sobreviveu à Grande Depressão, para servir no exército de Patton, durante a II Guerra, e de uma avó branca, que trabalhava numa linha de montagem de bombardeiros. (…)"
E continua: "Frequentei as melhores escolas da América, e vivi numa das nações mais pobres do Mundo. Sou casado com uma americana negra, que tem sangue de escravos e de proprietários de escravos. (…) Tenho irmãos, sobrinhos, tios e primos de todas as raças e aspectos, espalhados pelos continentes. Até ao fim da vida, nunca esquecerei que a minha história não seria possível, em qualquer outro país do Mundo. É uma história que faz com que eu não seja o candidato convencional. Mas essa história fez, na minha construção genética, aceitar a ideia de que esta nação é mais do que a soma das suas partes. Do múltiplo, somos uma unidade".
Podia ainda ter lembrado o seu padrasto indonésio, ou a epopeia de redescoberta da tribo Luo, no Quénia, em busca de algumas raízes. E podia ter concluído, como aliás fez, explicando que é produto da liberdade, do sonho americano, e das ideias - constitucionais e subversivas - que fizeram os EUA grandes.
Entre as chaves de sucesso do candidato democrata à Casa Branca está este patriotismo "inesperado" (para alguns), a boa escolha de temas e palavras, a capacidade para se adaptar ao instinto político, e o seu aspecto atípico. Barack é branco para muitos negros, negro para muitos brancos, ou "um negro que não assusta os brancos", na expressão cínica de um cronista britânico. Ou ainda, como talvez seja mais justo dizer, um candidato "sem cor", que expressamente explicou querer uma América "pós-racial.
A campanha derrotada de Hillary Clinton e os seus seguidores pelo mundo da velha política perceberam isto tarde de mais. Quando descobriram que Obama era o candidato de muitas pessoas com poder e sucesso, de muitas pessoas fartas dos bonzos tradicionais, de muitos desgostados dos partidos, de muitos ex-democratas e ex-republicanos, subitamente reinteressados pela luta presidencial, os estrategos de Clinton preferiram zombar de Obama, dizendo que atraía só "os sorvedores de capuccino e os estados-boutique".
O azedume do “clintonismo”, o seu mau perder, podem ainda ser reparados? Talvez. Embora uma aliança Clinton-Obama (com um posto vice-presidencial, ou outra fórmula) pareça contranatural, e possa expor-se a remoques sobre pequenos crimes entre amigos, a verdade é que, para alguns, é inevitável. A senhora Clinton ganhou mais votos populares e os maiores estados, embora Obama tenha ganho mais delegados e cerca de 65% dos estados. Os dois juntos conseguiram trazer para um processo de mero "concurso de beleza" interno dos democratas, e não de eleição nacional, mais de 50% do eleitorado final de John Kerry.
Por outro lado, a concilia챌찾o oportuna de dois rivais amargos, por uma causa comum, é moeda corrente na política americana. Durante a campanha de 1979, George Bush (pai) tratou as propostas económicas de Ronald Reagan como "vudu", mas acabou por ser seu vice-presidente.
A "uni찾o for챌ada" do Partido Democrata tem outra origem: o entendimento de que os EUA podem precisar de uma revolu챌찾o - de imagem, discurso, estratégia e curso. Mesmo que falhe em parte das vis천es, Obama assegura um come챌o