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De: sao_percheiro25 (Mensaje original) |
Enviado: 28/04/2008 21:13 |
Tanto tempo... Só agora reparei que escrevi a última crónica no dia 1 de Abril, um m챗s quase passado, mas que me faltou a vontade, um pouco de tudo, falta de saúde, e também de incentivo, mas hoje resolvi p척r um "basta"nesta minha falta de iniciativa, de me arrumar numa gaveta como um livro que já n찾o se l챗, uma página que ficou sem terminar o final! Muitas coisas se passaram, umas más mas outras que me marcaram profundamente, e acho até que foi isso que me deu for챌a para vir novamente aqui, conversar contigo atento amigo que sempre me escutas... Penso que os ventos de norte tenham mudado de rumo e me tragam um pouco de paz e estabelidade, estava ficando cansada, quase sem for챌as para lutar, mas acho que n찾o vai voltar a acontecer, n찾o seria eu mesma e isso eu n찾o quero. Já se sente um cheirinho a Primavera, e acho que isso me vai dar for챌as. As flores já voltaram a abrir, e por vezes o sol a sorrir. Já tenho novamente as minhas "sandálias", e isso me encheu novamente o cora챌찾o de esperan챌a, a pena estava ficando demasiadamente pesada, e eu muito frágil, mas Deus como sempre digo, estava por perto, e tal como nas Pégadas da Areia, ele me amparou e me pegou no colo! Era sexta-feira 25 de Abril quando me assumei ao port찾o pronta para enfrentar o mundo lá fora onde já n찾o ia há quase quatro meses. Me senti um passarinho a quem tivessem aberto a porta da gaiola... Tranquei apressada o port찾o e corri, olhei o Céu e agradeci por poder contemplar de novo o sol, que bom voltar a olhar tudo que me é t찾o famíliar... A loja do chin챗s que logo me chamou "sinola, como está"? Simpática sempre me atendendo com os devidos "salamaleques", lá me ia mostrando as roupas bonitas, mas eu hoje só queria ver, andar, olhar tudo ávida de liberdade, de espa챌o! Assim sem compromissos, e sem ninguém me esperando entrei no café do costume, novos "salamaleques" (á portuga claro)... Que bom cheirinho a café, e como me estava sabendo bem! Á saida uma senhora me perguntou se tinha estado fora, ai preguei uma daquelas minhas "petas"... "Sim, estive nos Estados Unidos", a poverita me olhou, e cetamente pensou... Ora vejam, aos Estados Unidos!!! Lhe acenei e sorrindo me afastei, e por hoje acho que terminei! S찾o Percheiro 26 de Abril 2008 |
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De: sao_percheiro25 |
Enviado: 06/07/2008 18:59 |
O domingo é o dia mais difícil de passar, acho que leva horas a correr... Prefiro a semana, sempre tenho que fazer na rua, vou ao café (ao domingo fecha), ai troco dois dedos de conversa, passo os olhos pelos jornais, vou á loja enfim. Nesta parte onde moro, na zona norte, os cafés n찾o d찾o acesso a pessoas como eu... Ent찾o só, na casa deserta, onde já nem os carros passam custa mais a passar, e por vezes é bem complicado evitar um pouco de melancolia... Tenho saudades dos meus amigos, quando será que voltam para me visitar?! E assim o tempo custa menos a passar. Dei uma arrumada no meu "cantinho", e olhando algumas fotos n찾o consegui reter uma lágrima teimosa, mas n찾o lhe fiz a vontade, peguei de um len챌o e prontamente a limpei, depois puz o cede da Ana Moura "Buzios" e resolvi escrever, e quem sabe n찾o dar conta do tempo correr! Sempre fui uma menina pronta a abrir as "torneiras", mas também logo as fechava, lembro que um dia na machamba do pai, teria os meus 13 anos, chorava porque queria n찾o lembro o qu챗, também tinha saído pouco antes da "casa grande", e estava muito vulnerável, tinha sido uma meninice muito complicada e dolorida sem nunca ter um famíliar por perto, ent찾o me sentia um pouco mimada, e nesse dia eu sei que tinha pedido algo, como n찾o tinha conseguido chorava. Ent찾o meu pai levando a m찾o ao bolso tirou um chocolate e me deu dizendo: "cala-te, para de chorar"!!! Estendi a m찾o (n찾o fosse o chocolate fugir), e logo limpei os olhos com as m찾os todas lambuzadas, misturando-se com o chocolate que logo marchou, e eu parei de chorar e logo esqueci o motivo. Há pequenas coisas que nos marcam de tal forma que n찾o esquecemos por muitos anos que passem. Lembro uma outra vez que fiquei sozinha em casa com a minha irm찾 a seguir a mim; na despensa muito bem arrumadinha, havia uma garrafa que me dava que pensar... era t찾o engra챌ada aquela garrafa de vridro tr찾nsparente com uma árvore toda enfeitadinha, que mais pareciam bolinhas de neve, e sem pensar duas vezes incitei minha irm찾 a partir a dita garrafa para ver que raio seria aquilo...Se o pensei, melhor o fiz, zaz, partimos a garrafa e... quando os pais chegaram a casa estavamos simplesmente comendo as tais bolinhas de neve que era nem mais nem menos, que aniz! Bom, que rica sova que levamos!!! Mas acho que nem chorei, tinha ficado consolada... Amanh찾 volto, e como é segunda sempre trago alguma novidade. S찾o Percheiro, 6 de Julho 2008 |
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De: sao_percheiro25 |
Enviado: 11/07/2008 20:20 |
Calcei minhas sandálias chorando... nem reparei que ias descal챌o! Hoje foi este meu pensamento, quando ao dar uma volta sem destino me cruzei com ele... uma figura que ninguém reconheceria a idade, a identidade, e seus pensamentos que n찾o deviam ser coloridos... Sentado num banco de jardim junto ao Centro de Saúde, aquele vulto ali estava, alheio de tudo, uma bengala de madeira tosca pousada a seu lado, que serviria de apoio á perna que lhe faltava. Uns oculos escuros me impediam de ver a cor dos olhos, daquele vulto nem novo nem velho, apenas alguém que estava só, e isso suas m찾os trémulas, o olhar baixo deixavam antever como se sentia triste! Sem destino certo, nem encontro marcado me apróximei dele, e mesmo antes que eu dissesse alguma coisa, ele se virou para mim e me disse: "que bom que veio, o Céu estava encoberto", me comovi, e uma daquelas lágrimas sempre teimosas e impertinentes se assomaram a meus olhos... Sorrindo n찾o sei bem de qu챗, lhe agradeci e me quedei a seu lado, ent찾o ele me disse: " sabe, um dia eu fui atrás de um sonho, e nele perdi meus olhos, hoje estou cego", mas n찾o é isto que me deixa triste, mas hoje ao ver a senhora voltei a ver a cor do Céu, me senti em paz"! Eu fiquei sem saber que dizer, eu também me sentia um pouco triste, e quando sai para beber um café n찾o sei porqu챗 minhas sandálias me guiaram para um caminho diferente e foi ent찾o que me dei conta de que ainda tinha umas sandálias, enquanto aquele vulto estranho caminhava descal챌o! Envergonhada pela minha fraqueza limpei aquela lágrima teimosa com as costas da m찾o, disse adeus áquela figura estranha e vim embora para casa sem mesmo ter bebido o meu café. S찾o Percheiro |
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De: espadinha1940 |
Enviado: 12/07/2008 23:20 |
Curiosamente ontem também passei junto das instalações de um Lar de Idosos. Num pequeno recinto ajardinado, vi quatro figuras que ali estavam sentadas, hirtas, sem nada dizerem. Ali estão à espera da morte. O jardim tinha um gradeamento e eu pensei: "aqui estão os novos prisioneiros, depois e uma vida de trabalho, em prol da sociedade." Senti-me na pele deles e pensei se eu próprio n찾o estarei naquela situa챌찾o, dentro de uns anos... Uma das empregadas do lar disse-me: -"Aquele tem de estar amarrado porque "foge"... E quem não desejaria fugir daquela situação e ter, pelo menos, a ilusão de voltar à vida activa e à liberdade de movimentos? Ficou-me um desassossego na alma. Espadinha |
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De: sao_percheiro25 |
Enviado: 12/07/2008 23:23 |
Outro dia chato!!! Geralmente até gosto do sábado, mas hoje n찾o sei porqu챗 está custando a passar. Quando vim da minha terra estive um ano em casa de meus sogros, que ano comprido... E de todos aqueles dias o que eu mais gostava era do sábado, ir á pra챌a, correr todas as bancadas testando a qualidade e pre챌o dos artigos ali expostos. Minha sogra (que Deus a lá tenha), regateava por um centavo, meu marido e meu sogro sopravam de um lado para o outro, e eu enquanto mirava me dava uma vontade danada de rir, era uma manh찾 inteira para comprar um galo velho, duro como cornos, que ao domingo seria nosso manjar, azeitonas e mais qualquer coisa que a "ti Maria" levava um ano para escolher, mas eu achava aquilo muito divertido, na minha terra n찾o se ia á pra챌a, e sim ao mercado de pau preto, por isso, e pelas caras dos ditos cujos valia a pena as manh찾s de sábado, e foi assim que tomei um gosto especial por este dia, e também, verdade seja dita, se pode dormir mais um bocadito, e eu sempre gostei de estar um pouquinho na cama de manh찾, embora á noite me goste de deitar tarde. Hábitos que se ganham. Depois eles faleceram, e eu deixei de ir á pra챌a, e de comer todos os domingos os tais galos duros de roer, hoje lembro com um pouco de saudade o rosto do Pai Tirano, e da sogra que por vezes me fazia passar dos carretos... Coitada, passou muito, fome, maus tratos, sim porque naquele tempo as mulheres n찾o tinham voto na matéria, tratadas como escravas do seu amo e senhor! Quantas vezes ao ouvir as suas histórias, eu pasmava como ela (e outras) tinham tido tantos filhos, e um casamento de 50 anos, haja pachorra!!! Quando me lembro me dá vontade de rir ao lembrar algumas coisas que ela dizia "tinha de me ensinar", como por exemplo, se o galo tinha custado 100 escudos, eu diria que tinha sido apenas 50, entendem?! Muitas vezes se aprende a mentir escusamente pelas ciscunst찾ncias da vida, o que é uma pena, todavia hoje as mentalidades est찾o mais abertas. Assim, hoje neste sábado aborrecido quando acabei de almo챌ar fui ao café ver como paravam as modas, mas n찾o havia ninguém, apenas duas mesas e numa delas um fulano que parecia escrevinhar uma coisa qualquer, mas que me olhava por cima dos oculos, eu sentia que me estava mirando, e nunca gramei que me olhassem por baixo dos oculos, assim comecei a ficar nervosa, e antes que me desse algum vaipe, resolvi vir embora, pelo caminho que é bem curto até casa, pensei em tantas coisas, e entre elas, senti uma saudade imensa de voc챗 e vim escrever... S찾o Percheiro |
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De: sao_percheiro25 |
Enviado: 17/07/2008 14:53 |
Hoje estou por aqui, um tanto perdida, está um calor de rachar e o sol muito baixo pelo que só sairei ao fim da tarde. Vou ficar por aqui, e sinceramente nem sei se chegarei a cooncluír esta crónica, ando com pouca disposi챌찾o, há ocasi천es na vida em que tudo corre mal, procuramos uma brecha, uma saída, mas ficamos encurralados sem saber que fazer, que rumo tomar... Mais que nunca me tenho lembrado da minha terra, da minha gente, daquele cheiro a catinga, da palhota do negro, da esteira onde tanta vez adormeci... tudo me vem á mente, e mesmo os momentos maus eu recordo com saudade, e nem sempre consigo deixar de abrir as malditas torneiras! Quando assim é dura dias, e hoje ja vai no segundo dia, no entanto eu sigo em frente, acho que uma grande guerra me espera, n찾o uma guerra de armas de fogo, mas daquelas guerras frias de sentimentos, e tenho de me munir de todas as armas para ao fim de trinta e tal anos me defender e lutar, e n찾o será desta que vou desistir. Hoje a tarde será por minha conta neste convento, eu e meus pensamentos! Já aqui n찾o passa ninguém, talvez seja isso também que me dá conta dos nervos, este sil챗ncio a que n찾o estava habituada me tem custado a encarar, nem os passarinhos, nada... Quem sabe logo escrevo mais, agora vou fazer o almo챌o, faz parte daquela "rotina" que detesto mas... S찾o Percheiro |
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De: espadinha1940 |
Enviado: 18/07/2008 16:18 |
Galo madrugador, que cante bem, precisa-se! Para quebrar o sil챗ncio da S찾o Percheiro... Espadinha |
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De: espadinha1940 |
Enviado: 18/07/2008 16:18 |
Galo madrugador, que cante bem, precisa-se! Para quebrar o sil챗ncio da S찾o Percheiro... Espadinha |
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De: sao_percheiro25 |
Enviado: 19/07/2008 02:47 |
Está passando na rádio fados de Coimbra, gosto muito e me faz um imenso bem. Hoje eu estou assim, nem triste nem alegre, muito frágil talvez, naqueles dias em que o pranto está sempre pronto a cair... Fui ao tratamento das mãos, sempre fico cansada, , e resolvi ir beber um café que certamente não me fazia falta nenhuma, mas é como um calmante, assim entrei no local do costume, e sem mesmo olhar vi que a minha mesa estava ocupada. Antes que pedisse alguma coisa ouvi uma voz que já não me é estranha me convidando para a mesa, era ele o meu personagem que já não era própriamente misterioso, mas continuava com cara de mordomo. Mandou vir o meu café, e sem me dar tempo a falar me disse "hoje está muito triste", sem saber que dizer me contive (as malditas torneiras), e sorri abanando a cabeça, e olhei com um pouco mais de atenção aquela figura estranha, e percebi o mundo de solidão que devia ser sua vida, e compreendi porque algumas vezes tinha o jornal de pernas para o ar... era talvez a sua forma de defesa perante os olhares estranhos, agora eu entendia, vi que tinha vontade de falar e me deixei estar, não tinha ninguém á minha espera, e ele falou. Suas mãos tremiam quando sem rodeios me disse, "perdi minha mulher, a minha estrela partiu"... Fiquei sem saber que dizer, por baixo da mesa finquei as unhas nas palmas das mãos, realmente tinha sido apanhada de surpresa, ai estava o mistério do "homem da secreta", nesse momento eu não era a crónista em busca de inspiração, mas apenas uma ouvinte atenta e até um pouco envergonhada de todas as minhas brincadeiras... Me despedi e senti que lhe fez bem conversar comigo, e eu mais uma vez me senti útil. Vim todo o caminho olhando á minha volta e pensando em tudo e nada, e sem dar conta cheguei á minha porta, o 17 que um dia fará parte da lixeira virada escombros de sonhos que sempre por aqui ficaram! Qual será o próximo número... Esta é a segunda casa onde deixo os melhores anos da minha vida, a primeira que tive foi apenas um quarto de solteira com uma janela virada para a linda Baia de Nacala, poucos móveis, nunca gostei de muita coisa, mas sempre adorei ter a minha secretária, completamente desalinhada, onde os papeis n찾o tinha morada certa, um recorte aqui outro ali, apontamentos, borr천es de tinta, onde sobressaia o meu Telefuncan um rádio que pertenceu a meu pai. A segunda uma casinha que comprei aos poucos com as facilidades que o meu trabalho dava aos funcionários, era pequena mas muito bonita, a perdi também, entre as labaredas e o fogo cruzado, ali ficou outro marco da minha vida, agora é o 17, mas n찾o vou falar mais nisso, sempre adorei o mar, e amanh찾 vou até á praia, e quem sabe ali, frente ao imenso oceano eu encontre a luz que tanto busco... S찾o Percheiro, 18 de Julho 2008 |
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De: sao_percheiro25 |
Enviado: 23/07/2008 22:32 |
Cheguei a casa, depois de duas horas perdidas na Seguran챌a Social, mortinha de sede e nada resolvi, tenho de lá voltar para a semana. Tinha levado comigo um bloco de notas e caneta pensando que enquanto bebia o café conseguiria escrever alguma coisa, mas por azar, mesmo á minha frente um indivíduo que n찾o parava de me olhar como se me estivesse fazendo uma radiografia, caramba, que tinha eu hoje de especial pensei, enquanto despercebidamente olhei a blusa que tinha vestida, n찾o fosse ter-me enganado e vestido a mesma ao contrario... já me aconteceu acreditem, mas n찾o foi o caso, e como tal já me estava a irritar e resolvi vir embora. Hoje logo pela manh찾 acordei com o barulho de máquinas e pensei, é agora que eles abriram os olhos, mas n찾o, já dei a volta ao quarteir찾o e está tudo na mesma, com a erva daninha crescendo, lixo amontuando, mesmo a cara de quem governa... Muitas vezes penso como é possível o autarca de uma cidade t찾o bonita como o Entroncamento, n찾o ter vergonha de ter este "bilhete postal" mesmo ao pé do Gino Desportivo! Mas... quem sabe logo logo, as coisas mudam de figura, haja vergonha... Estou farta de estar caladinha, e o sangue Percheiro está-me subindo á cabe챌a, e quando isso acontece é mau sinal! Passou á pouco o carro dos bombeiros á fogo por aqui perto. Talvez volte amanh찾 com alguma noticia fresquinha. S찾o Percheiro, 23 de Julho 2 |
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De: sao_percheiro25 |
Enviado: 26/07/2008 00:39 |
Hoje eu sei que minha crónica será um pouco triste, porque é mesmo assim que me sinto, acho até que fácilmente as torneiras se abrem a qualquer momemto, há dias assim... Talvez porque o dia está meu farrusco, uma gotinha ou outra vai caíndo como gotinhas de orvalho, ou será o amargo misto de nostálgia que me vai na alma? Que complicado é o ser humano, no entanto n찾o é necessário que aconte챌a alguma coisa, por vezes até (eu pelo menos), fico triste ou alegre, n찾o consigo passar ao lado, as coisas me tocam, me dizem sempre algo. Saí logo a seguir ao almo챌o, talvez isso me fosse salutar, mas n찾o resultou, bebi o café, e sem sequer ler o jornal vim embora. Olhei para tudo e n찾o vi nada, no entanto dei uma vista de olhos ao que outrora fora o meu bairro, e verifiquei que as cartas que fiz surtiram efeito, mas nem isso me conseguiu alegrar... eu n찾o disse?! Algumas gotas das "torneiras" que teimosas teimam em fazer o que n찾o quero, e já sei, hoje vai ser assim algo me diz... Também ontem me deitei bastante triste e preocupada ao ver minha manita t찾o em baixo, também n찾o é caso para menos, assim talvez que estas gotas de hoje sejam efeito disso, mas o aperto no peito se faz sentir, e por isso n찾o vou continuar... S찾o Percheiro |
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De: sao_percheiro25 |
Enviado: 31/07/2008 01:08 |
Ao acaso, e por acaso passando numa rua cujo nome nem sequer reparei, porque ia passando, distraidamente pensando, quando deparei com aquele vulto de mulher, curvada sentada no degrau de uma porta, segurando algo que apertava a si, protegendo possivelmente do frio que n찾o se fazia sentir! E como por acaso passando, parei, olhei, era um rosto de mulher ainda jovem, com belos olhos negros de noite escura e triste...Seus cabelos estavam envoltos no manto que cobria seu menino. Há quantos dias, há quantas horas estaria ali, naquela rua, áquela hora, de mão estendida á caridade pública de quem passava e nem sempre olhava, indiferente aquele pedaço de gente, tão só, tão despida de tudo, tão carente! Seu menino tinha fome, e ela nada tinha para lhe dar, apenas o calor do seu corpo, e o suco de suas lágrimas, nada mais... E como por acaso, no acaso do momento, alguém mais passou, parou, e a ajudou a levantar. E caminharam lado a lado, entrando numa humilde casa, em cuja janela aberta se podia ver que ali habitava Jesus! Algum segundos de ver aquele quadro de amor voltei mais animada, afinal ainda havia seres com alma cora챌찾o e cérebro, nem tudo estava perdido, embora eu por momentos tivesse perdido meu sentido de humor, mas ao deparar com aquele quadro de amor fraternal, me senti mais leve, e assim entrei no café do costume e pedi um café. Tinha sido um dia cheio de emo챌천es, n찾o me apetecia falar, peguei no jornal, e tal como o homem da "secreta", só n찾o li o jornal de pernas para o ar porque n찾o calhou... S찾o Percheiro |
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De: sao_percheiro25 |
Enviado: 03/08/2008 20:20 |
Fui almo챌ar fora com eles mas logo me vin embora pois está um calor infernal, e assim aproveito para ficar um pouco só o que já n찾o acontece á uns dias... Liguei minha telinha fiel, liguei minha música e pensei um pouco o que iria escrever, ai olhando uns peda챌os de jornal já amarelecido do Diário de Nampula, me lembrei de tantos amigos que por lá deixei e me lembrei dele... Era uma manh찾 chuvosa e triste de Janeiro. O cruzar das metralhadoras era constante, e os avi천es partiam e chegavam a cada instante de Mueda, ou de outras zonas de interven챌찾o, sempre com muitos feridos. Era fim de semana, e como de costume o nosso grupo do jornal e também do movimento, já se encontravam em Nampula.Tinhamos trabalhado toda a noite no jornal, ali, atentos ás noticias da radio, e das sirenes, e enquanto isso aqueciamos o café, e bebíamos para afastar o sono e o cansaço! Eram 9 horas quando fomos tomar banho, descançar umas horas, pois ás duas teríamos de estar na visita ao hospital. Naquele dia eu ia particularmente triste, durante a noite a radio não parava de dar noticias! Entre os feridos estava o Mário, um dos meus afilhados, tinha somente 21 anos! Não sabia a gravidade do seu estado. Ãramos um grupo de rapazes e raparigas, entre elas a Edite casada, e tesoureira do movimento, enquanto eu fazia o serviço de secretariado. Hei- nos chegados ao hospital, e como de costume sempre levávamos uns mimínhos, alem do papel e caneta, pois sempre havia um que nos pedia para escrevermos á família. Heis que chega um avião com feridos, foi logo uma confusão e correria... Eu ia olhando as macas que iam chegando, quando ouvi: Madrinha São!!! Bem, fiquei paralisada sem saber que fazer, meu coração bateu mais forte, e já as malditas lágrimas que teimavam em deslizar... Não São, não podes chorar, vá, coragem!... Virei-me, vi uma mão estendida para mim, eu senti, era o Mário, o meu amigo de olhos azuis... Agarrei-me a ele, choramos os dois, e ele me disse baixinho:São, minha querida madrinha, perdi as minhas pernas... Por favor, me ajuda a morrer!!!! Ficamos ali abraçados, por quanto tempo não sei, até que senti uma mão me separando dele, então eu percebi que ele tinha morrido, e com ele foi um pouco de mim... S찾o Percheiro |
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De: sao_percheiro25 |
Enviado: 08/08/2008 19:57 |
Me sinto como um passarinho a quem cortaram as asas e sem saber onde pousar... Hoje logo pela manh찾 sai por ai sem destino, n찾o fora alguns compromissos iria até onde as "sandálias" me levassem! Como queria n찾o sentir estas amarras que me prendem... sei que andaria sem destino, uma anseia do desconhecido, do n찾o ter rumo nem identidade, que fa챌o?! Queria tanto vislumbrar aquele luz ao fundo do túnel mas nada vejo, apenas aquela voz que me diz "continua", mas para onde?! Antes de sair de casa recebi uma chamada, era uma poetisa do nosso grupo da rádio, Beatriz. Fiquem sem saber que dizer quando ela me disse: "sabe S찾o, ás vezes a via passar aqui da minha varanda e tinha tanta inveja de si"... Ent찾o me explicou que uma doen챌a lhe vai tirando as for챌as aos membros, pelo que só pode andar na rua (pouco), apoiada em alguém, e por isso ao me ver passar sentia uma pontinha de inveja pela minha liberdade... Compreendi, eu sabia o que isso era, estas amarras que n찾o nos deixam correr, porque mesmo de sandálias nem em todo o lado posso entrar, tudo é limitado, e o que por vezes se deseja n찾o nos é possível alcansar! Me disse que estaria na varanda no 28 para me ver passar, e passei e de baixo demos dois dedos de conversa, lhe mandei um beijo e segui. A maldita névoa que n찾o me deixa em paz, vou beber um café quem sabe fico melhor. S찾o Percheiro, 7 Agosto language=javascript>var bMB=true; |
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De: sao_percheiro25 |
Enviado: 15/08/2008 22:14 |
Mais uma vez pensamentos tristes assombram meu ser. Há horas que dá vontade de desistir de deixar tudo pra trás e come챌ar de novo, mas como come챌ar de novo com um passado t찾o grande, com tantas coisas boas e más... Há momentos em que os sonhos parecem ficar cada vez mais longe, ao invés de aproximar. Foi algo que eu fiz de errado? Foi algo que eu deixei de fazer? Certamente são todas elas. A todo momento fazemos algo de errado mesmo que inconsciente. Revi minha vida como se fora, um filme, âo que eu tinha feito ali estava," mas e daí como classificar atos que se tornarão tão comuns? Certo seria algo que todos fazem? Como saber o que é certo, o que cada um ache que é errado? Ou seja, com seus próprios princípios. Não encontro respostas para me responder a questões como estas por vezes são difíceis de entender. Qual seria o meu papel aqui na terra?! Será que fui assim tão ruím? Deambulando por ai quase corri a cidade totalmente deserta, tudo fechado, ninguém circulando até matia medo. Me deu vontade de ir á Igreja, mas como vem sendo hábito estava fechada! Já vinha de volta quando me lembrei de meter o euro, quem sabe? Fico rica e dou um saltinho até ai... ter contigo! S찾o Percheiro
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De: misabelantunes1 |
Enviado: 16/08/2008 00:01 |
S찾o, Linda, como sempre, a tua crónica de hoje, apesar de triste ! Não te esqueças que, estamos no verão e que ele se vai embora muito depressa. N찾o olhes para trás, n찾o queiras reviver o passado, nem arrumes gavetas. Abre as janelas, olha o céu azul, "planta-te", no jardim, como se fosses uma flor e sentir-te-ás melhor. Um grande beijinho. Isabel |
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