O Festival da Urgueira, aldeia que apenas tem 12 habitantes, possibilita a todos os romeiros, mais de três mil, recuar um século, de forma a reviverem "um encontro com as tradições e com as raízes culturais".
O seu grande atractivo é a entrada de Manuel Farias, presidente da Associação "Os Serranos", num forno com temperaturas entre 200 e 300 graus com uma boroa de 70 quilos e sair vivo. O forno, que apenas se acende nesta festa, fica, ininterruptamente, a aquecer durante dois dias e duas noites.
Este ano, Manuel Farias referiu, ao JN, que está bem preparado para continuar a tradição secular, confessando que, além de um autodomínio, o segredo passa pela roupa que veste.
"É importante estar protegido do calor com um fato tradicional serrano de borel, lã e linho como se fosse passar uma noite ao relento".
O Milagre d'Urgueira tem origens seculares nas promessas feitas pela família Duarte Reis que emigrou para o Brasil, e passou por tormentas em viagens marítimas, regressando com o voto de construir um forno sobre uma laje de granito, num local de onde se vissem as areias brancas da praia.
Localizado a mais de 700 metros de altitude, este forno foi associado aos rituais da romaria da Nª Sª da Guia e deu origem a uma fantástica aventura, na qual, um homem, espontânea e temerariamente, entrou no forno, com um cravo na boca, onde ardia lenha há vários dias, para depositar uma broa de milho, e saiu vivo.
Assim, durante duas dezenas de anos, no final do século XIX, a meados do mês de Agosto, a Urgueira recebia a maior enchente de povo que esvaziava as aldeias serranas do Caramulo e outras que vinham de muito longe para ver o homem entrar dentro do forno e crer em tão audacioso feito.
Depois, a fornada apagou-se no início do século XX, devido a grandes tumultos ali ocorridos. Contudo, em 1996, a Associação Etnográfica "Os Serranos" reconstruiu a festa e o forno, transformando-a num festival-romaria.
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