O que eu perguntei a Obama: Nadja Gomes entre os 10 privilegiados
16 de Agosto de 2010, 11:36
‘Estávamos todos com as mãos levantadas e ele (Obama) ia seleccionando tendo em conta a igualdade do género, um homem, uma mulher. Calhou-me ser uma das suas escolhas’, conta emocionada, Nadja Gomes, a jovem moçambicana que perguntou ao Presidente americano que lições daria aos jovens líderes para despromover a violência.
A advogada da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos esteve na Casa Branca, no passado dia 2 de Agosto, num encontro promovido pelo Presidente dos EUA com jovens líderes africanos da sociedade civil, foi uma das dez escolhidas para colocar uma questão a Obama.
Nadja Remane Gomes, de 29 anos, não hesitou e apesar da ‘emoção e ansiedade’ formulou uma longa pergunta em português: ‘Sendo a América reconhecida como um marco de referência na história da democracia, e sendo o presidente Obama um dos precursores dessa democracia na actualidade, face à realidade africana em que, embora existam instrumentos jurídicos nacionais e internacionais de protecção dos direitos fundamentais, os princípios democráticos são sucessivas vezes violados, as eleições não são transparentes, justas e livres, ocorrendo muitas vezes elevados índices de abstenções, alterações das constituições para os governantes se perpetuarem no poder, não há sistemas eficientes de fiscalização da gestão da coisa pública, o que acaba culminando em tensões políticas e sociais, nesse contexto, quais seriam as lições ou estratégias que o senhor presidente recomendaria aos jovens líderes e às organizações da sociedade civil para advogar pela mudança e respeito dos princípios democráticos e direitos humanos, de forma pacífica, despromovendo a violência?’
A jovem confessa que tinha várias perguntas pensadas, mas no momento saiu aquela: ‘Nestes momentos há sempre uma emoção e ansiedade enormes. Temos a pergunta na cabeça, às vezes mesmo escrita, mas acaba por não ser exactamente aquela que fazemos. No meu caso tinha várias perguntas na cabeça. Depois havia ainda a questão da língua. Não sabia se devia falar em inglês ou em português, mas como vi os anteriores a falar nas suas línguas resolvi perguntar em português’.
A resposta de Obama foi igualmente longa. Nadja sabe de cor os pontos principais: ‘Não se pode separar a política da economia, nem o conflito do desenvolvimento e que os conflitos constantes, muitas das vezes assentes em questões étnicas, prejudicam profundamente o desenvolvimento do continente. Se existirem conflitos, isso afugenta os investidores, o que torna mais difícil para os empresários criarem oportunidades, privando assim os jovens de emprego, tornando-os mais propensos a serem recrutados para tomarem parte em conflitos de carácter violento. Apelou ainda à necessidade da integração plena das mulheres na sociedade, à alternância do poder, evitando alterações constitucionais visando a eternização dos regimes políticos’.
Cristóvão Araújo