Camilo Guevara, filho de Ernesto "Che" Guevara, disse em Montreal que a comercialização "excessiva e desproporcionada" da imagem do revolucionário argentino está a tentar fazer com que a sua história e ideologia desapareça.
Camilo Guevara, 48 anos, filho de Che, viajou ao Canada para assistir à projecção do documentário "Che, um homem novo", do argentino Tristan Bauer, que se estreia no Festival Internacional de Cinema de Montreal.
Numa entrevista à agência de notícias espanhola EFE, quando questionado sobre o risco de se cair no culto de personalidade, Camilo Guevara disse: "O problema está na forma desmedida, desproporcionada, como o filme foi lançado, que é essencialmente comercial".
"Na minha opinião, tentam fazer desaparecer o 'Che', deixam a imagem vazia e querem separá-la da história do 'Che'. Isso é útil porque o 'Che', gostemos ou não, é um símbolo subversivo, no melhor sentido da palavra, um símbolo de resistência e luta contra a dominação", acrescentou.
Camilo Guevara foi particularmente crítico em relação à exploração da imagem do seu pai, enquanto a sua vida é desconhecida.
"As pessoas têm é a t-shirt [com a cara dele] e acham que ele é um 'rockeiro' ou algo assim. Mas não sabem quem ele realmente é. Em última instância, conhecem apenas o nome. Podem mesmo saber duas ou três curiosidades sobre ele que, supostamente, fazem da pessoa uma especialista sobre o 'Che' [sem o ser]", disse.
"Mas na realidade as pessoas não têm informação, não sabem quem realmente é o homem. Portanto, todos estes documentários, o trabalho de investigação séria, mostram quem é a pessoa. O que o torna realmente atraente é o seu interior e é isso que queremos mostrar", afirmou Camilo Guevara.
Camilo Guevara considerou o trabalho de Bauer "o melhor documentário sobre seu pai" e "Diários de Motocicleta", o filme brasileiro de Walter Salles, a melhor obra de ficção.
Guevara disse que Salles foi capaz de se manter fiel ao espírito da história e, ao mesmo tempo, gozar de liberdade criativa.
"Para mim, este é o sucesso de qualquer filme na história. Isso é o que mais me interessa. Como tratar a história com respeito, mesmo quando se tem a liberdade para criar. O que eu vi: adorei", confessou.
Angop
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