
As simpatias dos portugueses mudam quando se fala de assuntos europeus. A maioria acredita nos benefícios da União mas não no euro
Adoramos Obama, estamos pessimistas relativamente à estabilização do Afeganistão, achamos que a China é uma ameaça económica, somos dos mais preocupados com os avanços do dossiê nuclear iraniano e, apesar de reconhecermos as virtudes da integração europeia, pensamos que o euro foi prejudicial à economia nacional. Em traços largos, é este o posicionamento dos portugueses nas grandes questões da política internacional. Um perfil desenhado pelo último "Transatlantic Trends 2010", inquérito de opinião a 12 países europeus e aos Estados Unidos da América coordenado pelo German Marshall Fund e com a participação da Fundação Luso-Americana (FLAD).
Portugal, na União Europeia desde 1986, é um país mais satisfeito com a adesão do que com o euro. Mas a má reputação da moeda única não é um exclusivo nacional - 52% consideram ter sido um factor negativo para a economia - e também franceses e alemães mostram o seu descontentamento.
Yes, we love him! Dois anos depois de ter sido recebido em Berlim por centenas de milhares de pessoas ainda como candidato à Casa Branca, o agora presidente Obama mantém intacto todo o seu star power. Na Europa, porque em casa o cenário muda de figura. Enquanto nos Estados Unidos 52% dos americanos validam as grandes opções de política externa do seu presidente, a percentagem na Europa escala para os 78%. Neste aspecto, os portugueses são mesmo os mais devotos seguidores de Obama no espaço europeu, com 88% a manifestarem-se favoráveis ao actual curso da diplomacia americana - Alemanha (87%) e Itália (84%) vêm logo a seguir. Novembro traz a Lisboa a Cimeira da NATO e com ela vem Obama, naquela que será provavelmente a única oportunidade que os portugueses terão para ver o presidente americano.
A ponte no espaço transatlântico parece estar assim recuperada depois da turbulência vivida durante a administração Bush. No entanto, os dados recolhidos pela TNS Opinion mostram que o apoio dos europeus a Obama se vai evaporando à medida que é feita a avaliação de políticas sectoriais. A fadiga relativamente ao conflito no Afeganistão é visível dos dois lados do Atlântico mas, curiosamente, é mais sentida na Europa (e nos países com menores contingentes) do que nos Estados Unidos - país que carrega o mais pesado fardo da guerra. Assim, 51% dos americanos acreditam na estabilização do Afeganistão (menos 5% do que em 2009) ao passo que na Europa apenas 23% têm a mesma opinião. Portugal não escapa à tendência com 26% dos inquiridos (menos 6% em 2009) a mostrarem-se pessimistas com o futuro da guerra que já leva nove anos.
Noutro tema que marca a agenda internacional, 86% dos americanos e 79% dos europeus estão preocupados com a possibilidade de o Irão desenvolver armas nucleares - uma das percentagens mais altas é alcançada em Portugal. As divergências quanto à utilização do poder nesta questão não podiam ser mais claras: 35% dos europeus falam em incentivos económicos enquanto 40% dos americanos apontam para sanções.
por Gonçalo Venâncio, Publicado em 16 de Setembro de 2010
http://www.ionline.pt/conteudo/78626-portugueses-sao-os-maiores-obamaniacos-da-europa