Maputo, 01 Abr (AIM) – O antigo presidente moçambicano, Joaquim Chissano, defende que o sucesso para a resolução dos conflitos que afligem o continente africano exige a identificação clara da sua génese que, na maioria dos casos, está longe de ser visível.
Falando na semana passada, durante uma entrevista concedida a rádio alemã “Deutsche Welle”, Chissano disse que as condições existentes nos países africanos são diferentes, razão pela qual não existe uma única solução aplicável a todas as nações.
Chissano tem o mérito de ter transformado Mocambique, um país devastado por uma guerra de 16 anos, num caso de sucesso e com uma democracia consolidada em Africa.
Comentando sobre as causas que dificultam o processo de mediação em Africa, tais como por exemplo o caso da Costa do Marfim, Chissano disse ser necessária uma abordagem global.
“Existem alguns problemas que a comunidade internacional entende como sendo as causas imediatas. Mas as causas reais estão longe de ser entendidas”, disse Chissano.
Como exemplo, Chissano citou o caso do Quénia que, a primeira vista, aparentava ser o resultado de eleições fraudulentas.
“Mas existiam causas mais profundas, que era a questão da terra, a distribuição da terra e o conflito tribal que era dominante naquele momento”, explicou o antigo estadista moçambicano.
Prosseguindo, Chissano disse que o mesmo sucede na Costa do Marfim.
“E’ possível que eles não tenham o problema da terra, mas existe o problema da etnicidade. Por isso, podemos estar a tratar apenas a questão dos resultados das eleições. Mas esse não e’ o único verdadeiro problema. O problema de fundo e’ a etnicidade que lá existe. Por isso, deve-se encontrar uma solução, que também aborde as causas reais para acabar com a animosidade, criar uma atmosfera para que a mediação possa funcionar”, disse.
Na ocasião, Chissano também mencionou o caso do tribalismo como sendo as causas de conflitos em Africa.
Chissano defende que a etnicidade não é algo mau, mas sim quando os políticos se aproveitam para criar divisões e tirar proveito político.
No seu entender, ainda não existe um processo para lidar com o tribalismo para que os valores das tribos sejam mantidos como uma herança de todos.
“Enquanto não se resolver esta questão, haverá sempre pessoas que vão querer tirar vantagens da existência das tribos, para colocar uma tribo contra a outra”, rematou.
Sobre a onda de rebelião que, actualmente, afecta a maioria dos países da Africa do Norte, tais como os casos da Tunísia, Egipto e Líbia, Chissano disse que não se pode descartar a possibilidade de a mesma contagiar o resto do continente.
“Não e’ possível negar que isso pode contagiar o resto do continente. Mas posso dizer que isso não seria aconselhável, porque as condições de cada país são diferentes.
Chissano adverte que e’ necessário ter cuidado para que esta vontade do povo de fazer mudanças não seja aproveitada por indivíduos de má fé, que queiram promover os seus próprios interesses para ascender ao poder e não para o bem do todo o povo.
(AIM)
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