Infecções virais
A encefalite é uma inflamação do cérebro, habitualmente provocada por um vírus e conhece-se como encefalite viral. A encefalomielite é uma inflamação tanto do cérebro como da medula espinhal, provocada também por um vírus. A meningite assépticaé uma inflamação das meninges (o revestimento do cérebro e da medula), habitualmente provocada por um vírus.
Vários tipos de vírus podem infectar o cérebro e a medula, incluindo-se aí os que provocam o herpes e a papeira. Algumas destas infecções ocorrem em forma de epidemia e algumas são propagadas por insectos.
Em certos casos, o vírus propriamente não infecta o cérebro e a medula, mas pode provocar reacções imunológicas que resultam, de maneira indirecta, numa inflamação destas estruturas. Este tipo de encefalite (encefalite parainfecciosa ou encefalite pós-infecciosa) pode apresentar-se depois do sarampo, da varicela ou da rubéola. A inflamação aparece de forma característica entre 5 e 10 dias depois da infecção viral e pode causar lesões graves no sistema nervoso.
Em alguns casos, a inflamação do cérebro desenvolve-se semanas, meses ou anos depois de uma infecção viral. Um exemplo é a panencefalite subaguda esclerosante, uma inflamação cerebral que em certos casos se manifesta depois do sarampo e ocorre habitualmente em crianças. (Ver secção 23, capítulo 260)
Sintomas
As infecções virais do cérebro podem produzir três tipos de sintomas diferentes. Algumas infecções são ligeiras, causando febre e um estado de mal-estar generalizado, habitualmente sem sintomas específicos.
A meningite viral produz geralmente febre, dor de cabeça, vómitos, cansaço e rigidez do pescoço. A encefalite afecta a função normal do cérebro, provocando alterações da personalidade, convulsões, debilidade numa ou mais partes do corpo, confusão e uma sonolência que pode converter-se num estado comatoso; além disso, provoca também os sintomas de uma meningite.
Certos vírus produzem sintomas adicionais. Por exemplo, o vírus do herpes simples causa convulsões repetidas nas fases iniciais da encefalite. O líquido cefalorraquidiano na encefalite por herpes simples contém glóbulos vermelhos além de glóbulos brancos (o que é pouco habitual noutras formas mais ligeiras de infecções virais).
Este vírus pode também causar uma inflamação do lobo temporal do cérebro, que pode ser diagnosticada rapidamente pela ressonncia magnética (RM). A tomografia axial computadorizada (TAC) só consegue mostrar alterações se existirem lesões graves.
Diagnóstico
No princípio pode ser difícil distinguir uma meningite viral ou asséptica de uma meningite bacteriana e a encefalite pode parecer-se com muitas outras doenças que causam uma disfunção cerebral. Ao primeiro sintoma de qualquer destas doenças, os médicos tentam determinar a causa da infecção. Efectuam quase sempre uma punção lombar para analisar o líquido cefalorraquidiano.
Nas infecções virais, o número de linfócitos no líquido encontra-se aumentado, mas não há presença de bactérias. A cultura do vírus a partir do líquido cefalorraquidiano é difícil e pode requerer vários dias.
Os médicos praticam também outras análises imunológicas para quantificar os anticorpos contra o vírus. Mas inclusive com estas análises, em mais de metade dos casos não se consegue identificar um vírus específico. O médico pode também solicitar uma TAC ou uma RM para confirmar que os sintomas não são provocados por um abcesso cerebral, por um derrame cerebral ou por um problema estrutural, como um hematoma, um aneurisma ou um tumor.
Abcesso cerebral frontal esquerdoImagem do abcesso cerebral frontal esquerdo rodeado por uma zona de edema. |
Prognóstico e tratamento
Ainda que as infecções que não produzem sintomas não requeiram habitualmente tratamento, os fármacos antivirais podem ser eficazes nos casos mais graves. O aciclovir é eficaz contra o herpes simples, mas não contra a maioria dos demais vírus.
Muitas pessoas afectadas por uma infecção viral do cérebro restabelecem-se completamente. As possibilidades de sobreviver e de recuperar dependem do tipo de vírus. A encefalite herpética causa lesões cerebrais graves, mas pode ser tratada com aciclovir. Para conseguir uma recuperação satisfatória, o tratamento deve começar antes de o paciente entrar em estado de coma. As lesões permanentes são mais habituais nos bebés. As crianças restabelecem-se habitualmente ao fim de um período longo, enquanto o adulto recupera rapidamente.
O medicamento zidovudina (AZT) pode retardar a demência causada pelo vírus da SIDA. A leucoencefalopatia multifocal progressiva trata-se por vezes com citarabina ou vidarabina, mas no melhor dos casos estes fármacos só retardam a progressão da infecção. (Ver secção 17, capítulo 186)
Causas de meningite asséptica e crónica
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Causas infecciosas
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Causas não infecciosas
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Doenças virais: Papeira, poliomielite, coriomeningite linfocitária, herpes, varicela, encefalite equina oriental e ocidental, encefalite por arbovírus (de S. Luis, equina do Este e do Oeste), mononucleose infecciosa, SIDA, e infecções por vírus Echo, vírus Coxsackie ou por citomegalovírus. |
Doenças que afectam o cérebro: Tumores cerebrais, icto, esclerose múltipla, sarcoidose, leucemia. |
Causas pós-infecciosas (doenças virais que provocam a meningite através de uma reacção imune depois de a doença principal ter sido curada): Sarampo, rubéola, varicela. |
Intoxicação: Intoxicação pelo chumbo. |
Infecções bacterianas: Tuberculose, sífilis, leptospirose, micoplasmose, linfogranuloma venéreo, doença da arranhadura do gato, brucelose, doença de Whipple. |
Reacção às vacinas: às da raiva e da tosse convulsa. |
Outras infecções: Rickettsiose, toxoplasmose, criptococose, triquinose, coccidioidomicose, cisticercose, paludismo, amebíase. |
Reacções a substncias injectadas na coluna vertebral: Medicamentos anticancerosos (quimioterapia), antibióticos, contrastes (para os raios X).
Fármacos :Trimetoprim-sulfametoxazol, azatioprina, carbamazepina, anti-inflamatórios não esteróides (ibuprofeno, naproxeno).
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