NIETZSCHE X PLATãO
Aparentemente, não conseguimos nada sobre a relação entre o Bem e o Mal. Mera aparência, pois, é a partir da relação entre a Discórdia heraclitiana e do Ser parmediano que vislumbramos em Platão o afastamento primordial entre os conceitos Bem e Mal, na qual se vê uma instituição moral normativa de bondade e maldade. E para nos conduzirmos por esta linha de pensamento, assumiremos, de agora em diante, uma postura nietzschiana acerca dessa problemática.
Para Nietzsche, Platão foi o grande instituidor da metafísica do pensamento, tal qual entende o filósofo alemão. E o pensamento platônico se resumiria assim: tudo o que é deve assumir a condição de verdadeiro; a verdade é obtida quando ascendemos ao plano do suprassensível; o conhecimento verdadeiro provém da alma; o corpo (o sensível) é o ambiente que obstrui a possibilidade do conhecimento. Exposto assim, o plano do suprassensível comporta o verdadeiro, o ser, agora não somente aproximado ao conceito Bem, mas identificado com ele. O Ser se identifica com a verdade que se identifica com o Bem. Do outro lado, o sensível, mbito apenas da opinião, do não ser, agora também não apenas aproximado ao conceito Mal, mas identificado com ele. Assim são separados dois ambientes: o mundo verdadeiro e o mundo falso; o mundo do bem e o mundo do mal. Seria essa, portanto, ante a perspectiva nietzschiana, a primeira vez em que Bem e Mal expressam, respectivamente, Ser e Não Ser (Devir). Platão, nos parece, marca o período embrionário da luta entre bem e mal na filosofia. Luta que chega à fase adulta quando do desenvolvimento do cristianismo, a chamada era medieval. Aqui temos uma nova fase do conceito. A caracterização que encontramos em Platão é sutilmente modificada para atender aos propósitos morais do cristianismo. O Bem, não apenas se identifica com o Ser, mas com Deus, um único Deus; e o Mal, agora não apenas se identifica com o Não Ser, mas com o Diabo, ou seja, com a falta de Deus. Nesse período, encontramos vários expoentes de grande importncia, como Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, entre outros, que, em sua maioria esmagadora, eram defensores do Ser=Bem=Deus e condenadores do Não Ser=Mal=Diabo (Pecado).