A AIDS como justificativa para a Orientação Sexual
Com o advento da AIDS, ficou mais do que evidente a necessidade de investimentos em prevenção, visto ser esta a única forma disponível para conter a epidemia. A Orientação Sexual ganhou força como política pública de saúde a partir desta realidade, sendo necessário, portanto, entender sua extensão e impacto na disseminação deste tema nos currículos escolares e nas conversas em família, além da sua constante presença na mídia. Na dissertação de Mestrado "Escola e AIDS: Um olhar para o sentido do trabalho do professor na prevenção à AIDS", na PUC/SP, do psicólogo Marcelo Sodelli, diretor técnico do Netpsi - Núcleo de Estudos e Temas em Psicologia, consta que o Ministério da Saúde, em 1996, divulgava que o Brasil contava com 62.634.791 habitantes com idade entre 5 e 24 anos, sendo que 47 milhões são alfabetizados e 15 milhões não freqüentam a escola.
Por outro lado, a partir do segundo boletim epidemiológico de 1999, Marcelo mostra que dos 155.590 casos de Aids notificados desde o início da epidemia até fevereiro daquele ano, 41.678 referem-se às faixas etárias compreendidas entre o nascimento e a idade de 29 anos e a maior parte dos casos vêm ocorrendo entre pessoas de 20 a 40 anos de idade, sendo que a transmissão do
HIV vem ocorrendo principalmente pela via sexual e através do uso compartilhado de seringas ou agulhas entre usuários de drogas injetáveis.
Paralelamente, explica Marcelo, a gestação indesejada na adolescência vem aumentando consideravelmente, o que desencadeia um maior número de abortos e amplia a problemática entre as adolescentes de baixa renda. Além disso, a alta incidência das DSTs nesta faixa etária indica a prática sexual desprotegida, ou seja, sem uso de preservativo.
"Analisando todos estes dados, percebemos que os adolescentes têm se mostrado despreparados para elaborar assuntos referentes à sexualidade, criando barreiras para a promoção da sua saúde sexual, tornando-se mais propensos à sérios problemas", considera Marcelo, que já trabalhou em diversos programas de Orientação Sexual e de Prevenção à AIDS. Em sua tese, ele indica que "a falta de diálogo familiar, a crescente oferta de drogas (lícitas e ilícitas), a sensação de invulnerabilidade, a suscetibilidade às pressões grupais, e a transgressão são alguns aspectos determinantes da vulnerabilidade individual, institucional e social dessa população".
Como solução, Marcelo levanta que, baseado em todos estes dados, a escola é o melhor espaço para realizar trabalhos preventivos para esta faixa etária. Ele lembra, em sua tese, o que afirma o Ministério da Educação:
"Devido ao tempo de permanência dos jovens nas escolas e às oportunidades de trocas, convívio social e relacionamentos amorosos, a escola não pode se omitir frente à relevncia dessas questões, constituindo-se em local privilegiado para a abordagem da prevenção às doenças sexualmente transmissíveis / AIDS ."
Marcelo lembra ainda que também a Organização Mundial de Saúde (1989) considera que a escola é um dos principais centros para a educação no setor de saúde. "Ao criar esse espaço de socialização do saber, estaria contribuindo para a promoção e divulgação de medidas preventivas ao combate à AIDS", diz.
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