[editar] Legado amargo
A Guerra Civil foi uma catástrofe para a nação finlandesa. Quase 37.000 pessoas pereceram, 5.900 das quais (16% do total) tinham entre 14 e 20 anos de idade. Um aspecto notável da guerra foi que apenas 10.000 destas baixas ocorreram nos campos de batalha; a maioria das mortes resultou das campanhas de terror e das horríveis condições nos campos de prisioneiros. Além disso, a guerra deixou aproximadamente 20.000 crianças órfãs. Um grande número de apoiadores da Finlndia Vermelha fugiu para a Rússia no final da guerra e durante o período que se seguiu.[53]
A guerra criou um legado de amargura, medo, ódio, e desejo por vingança, e aprofundou as divisões dentro da sociedade finlandesa. Os conservadores e liberais discordavam fortemente quanto ao melhor sistema de governo para a Finlndia adotar: o primeiro pedia por monarquia e parlamentarismo restrito; o último desejava uma república finlandesa com uma democracia em larga escala e reformas sociais. Um novo Senado conservador, com uma maioria monarquista, foi formado por J.K. Paasikivi.[54] Todos os membros do parlamento que haviam se envolvido na revolta foram removidos do cargo. Isto deixou somente um social-democrata, posteriormente juntando-se a mais dois.[55] Uma grande consequência do conflito de 1918 foi a ruptura do movimento trabalhista finlandês em três partes: social-democratas moderados, socialistas de esquerda na Finlndia, e comunistas agindo na Rússia soviética com o apoio nos bolcheviques.[54]
Na política externa, a Finlndia Branca buscou apoio da Alemanha e seu poderio militar, e ao final de maio, o Senado pediu a permanência dos alemães no país. Os acordos assinados com a Alemanha em 7 de março de 1918 em troca do apoio militar haviam ligado a Finlndia politicamente, economicamente e militarmente ao Império Alemão. Os alemães propuseram um pacto militar mais profundo no verão boreal de 1918 como parte de seu plano de assegurar matéria-prima do leste europeu para a indústria alemã e afirmar seu controle sobre a Rússia. O General Mannerheim resignou-se de seu posto em 25 de maio após desacordos com o Senado quanto a hegemonia alemã sobre o país e quanto ao seu planejado ataque a Petrogrado para repelir os bolcheviques, o qual os alemães se opuseram sob o tratado de paz assinado com Lênin em Brest-Litovsk. Em 9 de outubro, sob pressão da Alemanha, o Senado monarquista e o parlamento escolheram um príncipe alemão, Frederico Carlos, cunhado do Imperador Alemão Guilherme II, para ser o Rei da Finlndia — e a Finlndia seguiu o estatuto de um estado monarquista. Todas estas medidas diminuíram a soberania finlandesa. Os finlandeses, ambos de direita e esquerda, haviam alcançado a independência em 6 de dezembro de 1917 sem um tiro, mas então comprometeram essa independência ao permitirem que os alemães entrassem no país sem dificuldade durante a guerra civil.[56]
A condição econômica do país havia deteriorado tão drasticamente que a recuperação até os níveis pré-conflito não foi alcançada até 1925. A crise mais aguda se encontrava no suprimento de comida, já deficiente em 1917, apesar da fome ter sido, naquele tempo, evitada no sul da Finlndia. A Guerra Civil, segundo os líderes da Finlndia Vermelha e Finlndia Branca, resolveria todos os problemas passados; ao invés disso, levou à fome também no sul da Finlndia. No fim de 1918, o político finlandês Rudolf Holsti pediu ajuda a Herbert Hoover, o presidente da Comissão por Ajuda na Bélgica: Hoover organizou carregamentos de comida e persuadiu os Aliados a relaxar seu bloqueio do Mar Báltico (que havia obstruído suprimentos de comida à Finlndia) para permitir que a comida chegasse.[57]