Presença portuguesa no Oriente
A viagem comandada por Vasco da Gama até Calecute,[20] foi ponto de partida da implantação portuguesa na costa oriental africana e na Índia. O primeiro contacto deu-se a 20 de Maio de 1498. Após alguns conflitos com mercadores árabes que detinham o monopólio das rotas de especiarias, Vasco da Gama conseguiu uma carta de concessão ambigua para as trocas comerciais com o samorim de Calecute, aí deixando alguns portugueses para estabelecerem uma feitoria. Pouco depois, foi criada em Lisboa a Casa da Índia para administrar o monopólio régio da navegação e comércio com o Oriente.
O objectivo de Portugal no Oceano Índico foi o de assegurar o monopólio do comércio de especiarias. Jogando continuamente da rivalidade que opunha hindus e muçulmanos, os portugueses estabeleceram, entre 1500 e 1510, várias fortalezas e feitorias comerciais.
Em 1500 a segunda armada à Índia que vinha de descobrir o Brasil explorou a costa oriental africana, onde Diogo Dias descobriu a ilha a que deu o nome de São Lourenço, mais tarde designada Madagáscar. Esta armada, comandada por Pedro Álvares Cabral, chegou a Calecute em Setembro, onde assinou o primeiro acordo comercial na Índia. A feitoria portuguesa aí instalada teve contudo efémera duração: atacada pelos muçulmanos em 16 de dezembro, nela pereceram vários portugueses, entre os quais o escrivão Pero Vaz de Caminha. Após bombardear Calecute, Cabral seguiu para Cochim.
Beneficiando da rivalidade entre o marajá de Cochim e o samorim de Calecute, os portugueses foram bem recebidos e vistos como aliados na defesa, fundando em Cochim o forte (Forte Manuel) e posto comercial que seria a primeira colónia europeia na Índia. Aí construiram em 1503 a Igreja de São Francisco.[21] Em 1502 Vasco da Gama tomou a ilha de Quíloa, na costa da Tanznia, onde em 1505 foi construída a primeira fortificação portuguesa da África Oriental para proteger as naus da carreira da Índia.
Em 1505 o rei D. Manuel I nomeou D. Francisco de Almeida[22] primeiro Vice-rei da Índia[23] por um triénio. Sedeada em Cochim iniciou-se a governação portuguesa no oriente. Nesse ano os portugueses tomaram Cananor onde fundaram a fortaleza de Santo Angelo e Lourenço de Almeida chega a Ceilão, actual Sri Lanka, onde descobre a origem da canela. Encontrando-o dividido em sete reinos rivais, estabelece um pacto de defesa com o reino de Kotte e, explorando as rivalidades internas, estende o controlo nas áreas costeiras, onde em 1517 seria fundada a fortaleza de Colombo.[24]
Em 1506 os portugueses, sob o comando de Tristão da Cunha e Afonso de Albuquerque, conquistam Socotorá na entrada do Mar Vermelho e em 1507 Mascate, seguindo a estratégia que pretendia fechar as entradas para o Índico. Nesse mesmo ano foram construidas fortalezas na Ilha de Moçambique e em Mombaça, na costa queniana.
Em 1509 é travada a batalha de Diu contra uma frota conjunta do Sultanato Burji do Cairo, do Sultão Otomano Beyazid II, do samorin de Calecute e do Sultão de Gujarat, com o apoio naval da República de Veneza e da República de Ragusa.[25] A vitória portuguesa foi determinante, marcando o início do domínio europeu no Índico. Com o poder dos otomanos seriamente abalado, os Portugueses conquistaram rapidamente localidades costeiras.
Já sob o governo de Albuquerque Goa foi tomada aos árabes em 1510 com o auxílio do corsário hindu Timoja. Cobiçada por ser o melhor porto comercial da região, entreposto de cavalos árabes para os sultanatos do Decão, permitia cumprir a vontade do Reino de não permanecer eterno hóspede de Cochim. Apesar de ataques constantes, Goa tornou-se a sede da presença portuguesa, sob nome de Estado Português da Índia, com a conquista a desencadear o respeito dos reinos vizinhos: Guzerate e Calecute enviaram embaixadas, oferecendo alianças, concessões e locais para fortificar. Albuquerque iniciou nesse ano em Goa a primeira cunhagem de moeda portuguesa fora do reino, aproveitando a oportunidade para anunciar a conquista.[26][27]
Inicialmente D. Manuel I e o conselho do reino tentaram distribuir o poder a partir de Lisboa, criando três áreas de jurisdição no Índico: Albuquerque seguira com a missão de tomar Hormuz, Aden e Calecute assegurando o domínio no mar Vermelho; Diogo Lopes de Sequeira fora enviado para o sudoeste asiático, com a missão de tentar um acordo com o sultão de Malaca; Jorge de Aguiar e, depois, Duarte de Lemos presidiam à área entre o Cabo da Boa Esperança e Guzerate.[28] Contudo estes cargos foram centralizados por Afonso de Albuquerque, que se tornou plenipotenciário, e assim permaneceram.
Em Abril de 1511 Albuquerque zarpou para Malaca, na Malásia, com uma força de cerca de 1 200 homens e 17 ou 18 navios.[29] Placa contornante do comércio com a China e com o sudeste asiático, a península de Malaca tornou-se então a base estratégica para a expansão portuguesa na Índia Oriental, sob o Estado Português da Índia cuja capital era Goa. Para defender a cidade foi erguido um forte cuja porta, denominada a "A Famosa", ainda subsiste. Vencido o sultanato de Malaca, Afonso de Albuquerque envia imediatamente Duarte Fernandes em missão diplomática ao Reino do Sião (Tailndia), onde é o primeiro europeu a chegar, dadas as pretensões siamesas em Malaca.[30] Em Novembro desse ano, ficando a saber a localização das chamadas "ilhas das especiarias" nas Molucas, as ilhas Banda, enviou uma expedição comandada por António de Abreu para as encontrar. Pilotos malaios guiaram-nos via Java, as Pequenas Ilhas de Sunda e da ilha de Ambão até Banda, onde chegaram no início de 1512.[31] Aí permaneceram, como primeiros europeus a chegar às ilhas, enchendo os seus navios com noz moscada e cravinho.[32] Abreu partiu por Ambão enquando o seu vice-comandante Francisco Serrão se adiantou para Ternate. Nesse mesmo ano, na Indonésia, os portugueses tomam Macáçar, chegando a Timor em 1514.[33][34]
Partindo de Malaca, Jorge Álvares chegou ao Sul da China em 1513. A esta visita seguiu-se a chegada a Cantão, onde foram estabelecidas feitorias portuguesas e onde mais tarde surgiria o entreposto de Macau.
No Golfo Pérsico os portugueses conquistam Ormuz em 1515 e, devido à posição estratégica na região, o Bahrein em 1521.
Entre 1522 e 1529, na sequência da viagem de circumnavegação de Fernão de Magalhães, os castelhanos contestaram o limite Este do Tratado de Tordesilhas, disputando as valiosas Molucas "berço de todas as especiarias" e as Filipinas com os portugueses. Em 1524 D. João III e Carlos I de Espanha selaram o Tratado de Saragoça, que definia a continuação do meridiano de Tordesilhas no hemisfério oposto, a leste das ilhas Molucas, cedidas pela Espanha mediante o pagamento de 350.000 ducados de ouro.
Em 1533 Portugal conquista Baçaim, a cerca de 50 km de Bombaim. Em 1534, Guzerate foi ocupada pelos mogóis e o sultão Bádur Xá de Guzerate foi forçado a firmar o tratado de Baçaim com os portugueses, onde estabelecia uma aliança para recuperar o seu país, cedendo em troca Damão, Diu, Bombaim e Baçaim.[35]
Em 1538 a fortaleza de Diu é novamente cercada por 54 navios otomanos. Um outro cerco falhado em 1547 poria fim às ambições otomanas, confirmando a hegemonia portuguesa.
Mapa da Ásia e oceania c.1550
Em 1542 o missionário jesuíta Francisco Xavier chegou a Goa ao serviço de D. João III, para ocupar o cargo de Núncio Apostólico, viajando com o novo vice-rei. No ano seguinte Francisco Zeimoto e outros comerciantes aportam no Japão pela primeira vez. Segundo Fernão Mendes Pinto, que terá participado nesta viagem, chegaram à ilha de Tanegashima, onde espantaram os autóctones com a novidade das armas de fogo e do relógio, que viriam a ser de imediato fabricados pelos japoneses em grande escala.[36]
Em 1550 iniciaram-se os primeiros contactos com Macau. Em 1557 as autoridades locais autorizaram os portugueses a estabelecer-se mediante um pagamento anual, fazendo de Macau um entreposto no comércio triangular entre a China, o Japão e a Europa.
Em 1570 os portugueses compraram um porto japonês onde fundaram a cidade de Nagasaki,[37] criando assim um centro comercial que durante muitos anos seria a porta do Japão para o mundo.