[editar] América do Norte
[editar] Estados Unidos da América
Os glaciares da América do Norte situam-se sobretudo ao longo das Montanhas Rochosas nos Estados Unidos da América e Canadá, e nas cordilheiras da Costa do Pacífico que se estendem desde o Alasca até ao norte da Califórnia. Apesar de a Gronelndia estar geologicamente associada à América do Norte, faz também parte da região ártica. Além de alguns glaciares de maré, como o glaciar Taku, que se encontram na fase de avanço do ciclo de glaciares costeiros prevalente ao longo da costa do Alasca, virtualmente todos os glaciares da América do Norte se encontram em recuo. A velocidade de recuo observada cresceu rapidamente desde 1980, e de um modo geral em cada década que passa observam-se velocidades de recuo maiores que na década precedente. Existem também alguns glaciares vestigiais dispersos pela Sierra Nevada da Califórnia e Nevada.
A cordilheira das Cascatas no oeste da América do Norte, estende-se desde o sul da Colúmbia Britnica no Canadá, até ao norte da Califórnia. Exceptuando o Alasca, cerca de metade da área glacial dos Estados Unidos da América está contida nos mais de 700 glaciares do Parque Nacional North Cascades, uma extensão da cordilheira entre a fronteira com o Canadá e o centro do estado de Washington. Estes glaciares contêm tanta água como aquela contida em todos os lagos e albufeiras do resto do estado, fornecendo muita da água que alimenta os caudais de rios e ribeiros durante os meses secos do verão, ou seja, cerca de 870,000 m³.
O glaciar Boulder recuou 450 m entre 1987 e 2005.
O glaciar Easton recuou 255 m entre 1990 e 2005.
Tão recentemente como em 1975, muitos glaciares de North Cascades encontravam-se em avanço devido ao tempo mais frio e precipitação superior ao normal que se verificaram entre 1944 e 1976. No entanto, em 1987 todos os glaciares de North Cascades encontravam-se em recuo e a sua velocidade de recuo tem aumentado em cada década relativamente à década precedente, desde meados da década de 1970. Entre 1984 e 2005, os glaciares de North Cascades perderam, em média, mais de 12.5 m da sua espessura e entre 20 e 40% do seu volume.[38]
Os glaciólogos que estudam os glaciares de North Cascades concluíram que todos os 47 glaciares monitorizados encontram-se em recuo e que quatro deles - os glaciares Spider, Lewis (na imagem), Milk Lake e David - desapareceram totalmente desde 1985. O glaciar de White Chuck é um exemplo particularmente dramático. Este glaciar encolheu de 3.1 km² de área em 1958 para 0.9 km² em 2002. De igual modo, o glaciar Boulder no flanco sudeste do Monte Baker recuou 450 m entre 1987 e 2005. Este recuo ocorreu durante um período de reduzida queda de neve no inverno e com temperatura mais alta que o normal durante o verão. Nesta região das Cascatas, a acumulação de neve durante o inverno decresceu 25% desde 1946, enquanto a temperatura de verão subiu 0.7 °C durante este mesmo período. A redução na acumulação de neve aconteceu apesar de um pequeno aumento da precipitação no inverno, o que reflecte temperaturas mais altas no inverno com a consequente queda de chuva e derretimento dos glaciares mesmo durante o inverno. Em 2005, 67% dos glaciares de North Cascades que foram objecto de observação encontravam-se em desequilíbrio e não suportarão a continuação das condições climáticas actuais. Estes glaciares acabarão por desaparecer, a menos que as temperaturas baixem e que a quantidade de precipitação gelada aumente. Os restantes glaciares deverão estabilizar, desde que o clima não se torne mais quente, mas encontrar-se-ão muito reduzidos no seu tamanho.[39][40]
Nas encostas abrigadas dos picos mais altos do Parque Nacional Glacier (GNP), em Montana, os glaciares estão rapidamente a diminuir a sua extensão. A área de cada glaciar tem sido cartografada ao longo de décadas pelos National Park Service e U.S. Geological Survey. A comparação de fotografias obtidas em meados do século XIX com imagens actuais, fornece evidências claras de que os glaciares deste parque recuaram muito desde 1850. Os glaciares maiores apresentam actualmente um terço do tamanho que tinham em 1850, e muitos glaciares mais pequenos pura e simplesmente desapareceram. Apenas 27% dos 99 km² de superfície do parque cobertos por glaciares em 1850 assim permaneciam em 1993.[41] Os investigadores acreditam que pelo ano 2030, grande parte do gelo glaciar do Parque Nacional Glacier terá desaparecido a não ser que os padrões climáticos actuais invertam o seu curso.[42] O glaciar Grinnell é apenas um dos muitos glaciares do Parque Nacional Glacier bem documentados fotograficamente ao longo de décadas. As fotografias abaixo mostram claramente o recuo deste glaciar desde 1938.
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1938 T.J. Hileman (GNP) |
1981 Carl Key (USGS) |
1998 Dan Fagre (USGS) |
2005 Blase Reardon (USGS) | |
O clima semi-árido de Wyoming ainda consegue manter cerca de uma dúzia de pequenos glaciares no Parque Nacional de Grand Teton. Todos eles apresentam evidências de recuo durante os últimos 50 anos. O glaciar Schoolroom, situado ligeiramente para sudoeste de Grand Teton, e um dos mais fáceis de visitar no interior do parque, deverá desaparecer cerca de 2025.[43] Investigações levadas a cabo entre 1950 e 1999 demonstraram que os glaciares na Floresta Nacional de Bridger-Teton e na Floresta Nacional de Shoshone nas montanhas de Wind River perderam cerca de dois terços do seu tamanho no período indicado. As fotografias conhecidas indicam que actualmente os glaciares têm uma extensão que é metade daquela que tinham em finais da década de 1890. Outros trabalhos indicam ainda que o recuo dos glaciares terá sido proporcionalmente maior na década de 1990 que em qualquer outra nos últimos 100 anos. O glaciar Gannett na encosta nordeste de pico Gannett, é o maior glaciar das Montanhas Rochosas a sul do Canadá. Este glaciar terá perdido mais de 50% do seu volume desde 1920, com quase metade dessa perda a ocorrer a partir de 1980. Os glaciólogos acreditam que os glaciares que ainda restam no Wyoming terão desaparecido em meados do século XXI, se os padrões climáticos se mantiverem.[44]
Existem milhares de glaciares no Alasca, mas apenas alguns têm nome. O glaciar Columbia, próximo de Valdez, recuou 15 km nos últimos 25 anos, sendo origem de inúmeros icebergues. O glaciar Valdez, situado na mesma região também recuou significativamente. "Um levantamento dos glaciares costeiros do Alasca, feito a partir de avião, identificou mais de uma dúzia de glaciares em recuo rápido, incluindo-se entre eles os seguintes: Grand Plateau, Alsek, Bear e Excelsior. Dos 2000 glaciares observados 99% encontra-se em recuo".[45] A Baía Gelada no Alasca, é alimentada por três grandes glaciares - Guyot, Yahtse e Tyndall - tendo todos eles sofrido perdas de comprimento e espessura e consequentemente de área. O glaciar Tyndall separou-se do glaciar Guyot durante a década de 1960, devido ao recuo deste, e recuou 24 km desde essa altura, com um recuo médio de 500 m/ano.[46]
O Programa de Pesquisa do Campo de Gelo Juneau tem monitorizado os glaciares de descarga do campo de gelo de Juneau desde 1946. No lado oeste do campo de gelo o término do glaciar Mendenhall, que flui para os subúrbios de Juneau, recuou 580 m. Dos dezanove glaciares do campo de gelo Juneau, dezoito estão em recuo, e um, o glaciar Taku, encontra-se em avanço. Onze destes glaciares recuaram mais de 1 km desde 1948.[47] O glaciar Taku encontra-se em avanço pelo menos desde 1890, altura em que o naturalista John Muir observou uma grande frente do glaciar que dava origem a icebergues. Por volta de 1948, o fiorde adjacente tinha sido preenchido, e o glaciar Taku deixou de produzir icebergues e continuou o seu avanço. Em 2005 este glaciar encontrava-se a apenas 1.5 km de atingir Taku Point e assim bloquear o braço de mar de Taku. O avanço médio do glaciar Taku foi 17 m/ano entre 1988 e 2005. O balanço de massa foi muito positivo no período 1946-88; no entanto, desde 1988 o balanço de massa tem sido ligeiramente negativo, facto que deverá abrandar a velocidade de avanço deste grande glaciar.[48]
Registos de balanço de massa efectuados ao longo de muitos anos relativos ao glaciar Lemon Creek no Alasca, mostram uma ligeira diminuição do balanço de massa ao longo do tempo.[49] O balanço médio anual para este glaciar era -0,23 m/ano entre 1957 e 1976. O balanço de massa tem-se tornado cada vez mais negativo, sendo em média -1,04 m/ano entre 1990 e 2005. Medições altimétricas repetidas ao longo de vários anos para 67 glaciares do Alasca mostram que as velocidades de adelgaçamento (ou de perda de massa) pelo menos duplicaram, quando comparadas com as registadas entre 1950 e 1995 (0.7 m/ano) e entre 1995 e 2001 (1.8 m/ano).[50] Trata-se de uma tendência sistémica com a perda de massa a corresponder a perda de espessura, o que leva à aceleração do recuo - os glaciares não só estão a recuar, como também estão muito mais delgados. No Parque Nacional Denali, o ponto terminal do glaciar Toklat tem recuado 24 m/ano e o glaciar Cantwell 10 m/ano.[51] Bem documentados no Alasca são os glaciares de avanço rápido (até 100 m/dia), ainda que as razões por detrás de tais avanços repentinos não sejam conhecidas.[52] São exemplos deste tipo de glaciares no Alasca os glaciares Varigated, Black Rapids, Muldrow, Susitna e Yanert. No entanto, estes glaciares encontram-se em termos globais em recuo, apesar da ocorrência de pequenos períodos de avanço.
Nas Montanhas Rochosas do Canadá os glaciares são geralmente maiores e mais comuns que em Montana. Um dos glaciares desta zona mais facilmente acessível é o glaciar Athabasca, que é um glaciar de descarga do campo de gelo Columbia. O glaciar Athabasca recuou mais de 1 500 m desde finais do século XIX. A velocidade de recuo deste glaciar aumentou desde 1980, após um período de recuo lento entre 1950 e 1980. O glaciar Peyto em Alberta cobrindo uma área de 12 km², recuou rapidamente durante a primeira metade do século XX, estabilizando a partir de 1966, recomeçando a recuar em 1976.[53] O glaciar Illeillewaet no Parque Nacional Glacier na Colúmbia Britnica, recuou 2 km desde que foi fotografado pela primeira vez em 1887.